por Israel Teixeira

Rafael Negrão é ativista LGBTQI+, reside no Cabo de Santo Agostinho, atuando como assessor de comunicação do Centro das Mulheres do Cabo (CMC) e do Fórum Suape Espaço Socioambiental. É egresso do curso de Jornalismo da  Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). O Fórum Suape Espaço Socioambiental é uma organização não-governamental que defende os direitos territoriais e socioambientais das comunidades atingidas pela instalação do Complexo Industrial e Portuário de Suape, que vivenciam um processo de exclusão social, violência e degradação ambiental. Já o Centro das Mulheres do Cabo é uma ONG feminista que tem como missão construir a igualdade de gênero e raça, na luta por direitos e políticas públicas para mulheres. Não sem razão ele atua nessas duas frentes. Rafael mora no Cabo de Santo Agostinho, cidade da Região Metropolitana do Recife que em julho de 2021 foi indicada pelo  Anuário Brasileiro de Segurança Pública como 2ª cidade brasileira com a maior taxa de homicídios por 100 mil habitantes.

Negrão é assessor de imprensa, comunicador popular e social, atua dando visibilidade aos movimentos sociais, junto às mulheres, à juventude e a muitos outros grupos sociais. O trabalho no Centro de Mulheres do Cabo inclui a produção do programa “Rádio Mulher”, com pautas voltadas aos direitos das mulheres. O programa é transmitido de segunda à sexta, às 08h da manhã, na página dos Centro das Mulheres do Cabo no Facebook, com a retransmissão pela Rádio Calheta FM. 

Rafael Negrão – Fotografia de Manina Aguiar

Desde a adolescência Rafael está envolvido em movimentos sociais. Ainda na graduação, produziu e dirigiu, junto ao cineasta Leo Tabosa, o documentário Retratos (2009). A produção audiovisual foi seu trabalho de conclusão de curso e mostra o cotidiano de travestis e transexuais, por meio das narrativas de seis personagens que, em Pernambuco, atuam profissionalmente em diversas áreas, desvinculadas da prostituição. “Conseguimos mostrar essas pessoas como cidadãs, como filhas, como amigas… Tiramos a questão da prostituição do foco. Na maioria das vezes, este é o único enfoque que a imprensa tradicional cobre. O que é, infelizmente, uma visão estereotipada dessa população. No documentário nós mostramos que essas pessoas são cidadãos e cidadãs”, relata. Retratos conquistou vários prêmios, participando de mais de 60 festivais de cinema, foi veiculado ao Canal Brasil e está disponível aqui.

Documentário Retratos – Acervo: assessoria de cultura: UNICAP
Equipe do Centro das Mulheres do Cabo – Fotografia de Bruna Valença

Recentemente, Rafael foi um dos selecionados para uma bolsa de reportagem do curso de Dados em Narrativas Jornalísticas, realizado em parceria pelo Instituto Fogo Cruzado, Marco Zero Conteúdo, Escola de Comunicação da Universidade Católica de Pernambuco e Fundação Friedrich Ebert. Ele produziu uma matéria sobre a violência no Cabo de Santo Agostinho e a falta de políticas públicas na região. Rafael foi o primeiro colocado para a bolsa e sua reportagem provocou uma grande repercussão. “Eu fiquei muito feliz, porque foi muito proveitoso. Tivemos duas semanas de formação para produzir matérias sobre segurança pública. Percebi que eu consegui, indiretamente, pautar outros veículos que também falaram sobre a criminalidade no Cabo de Santo Agostinho, que tem ceifado a vida de tantos jovens”, declara.

O jornalista percebe a atuação do jornalismo independente como necessária, precisa e urgente. Para ele, as organizações de jornalismo independente nativas digitais atuam em nichos que geralmente não têm espaço na mídia hegemônica”. “O jornalismo independente, para além de ser uma forma de atuação do profissional,  permite um trabalho investigativo minucioso, na cobertura de pautas que normalmente não estão em veículos tradicionais. É uma comunicação crítica, plural, que respeita os direitos humanos”, finaliza.