Por Conceição Tomaz e Laura Martiniano

“Há dois tipos de ataques aos jornalistas: o que vem do poder público direto e o que é instigado por esse poder também.” disse Tatiana Farah, gerente executiva da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo – Abraji na mesa que encerrou o terceiro dia do Festival 3i e que tratou da relação entre redes sociais e eleições. O debate contou também com a participação da diretora de conteúdo da Gênero e Número, que mediou a conversa, Maria Martha Bruno, da analista de dados e impacto na Énois, Jamile Santana, e da editora e repórter da Agência Pública e Cajueira, Mariama Correia, egressa do curso de Jornalismo da Unicap.

Um relatório lançado pela Abraji mostra que, apenas em 2021, foram 117 ataques contra mulheres na imprensa. Entretanto, para Tatiana Farah, há mais ataques subnotificados devido à normalização da agressão. “Ataques denunciados, porque acreditamos que há subnotificação”, destacou Tatiana. A própria jornalista já foi vítima dessas violências: “Senti isso na carne em uma reportagem para o Buzzfeed, sobre um vereador que fez caixa dois. Trabalhei em parceria com um colega homem, mas toda a campanha de desmoralização veio para mim.”

Mariama falou sobre a influência de grupos nas redes sociais na propagação de desinformação

Mariama Correia, da Pública, monitorou a propagação de desinformação dentro de grupos conservadores cristãos. “O que a gente observa é que o debate político é muito presente, mas a desinformação também. É preciso estar de olho nesses movimentos, porque o campo evangélico foi determinante na eleição passada”, contou. Ela destaca que esses espaços também se tornaram grandes disseminadores de fake news. “Monitorando esses grupos de Whatsapp, identificamos um grande fluxo de desinformação. O campo evangélico é uma força muito grande para Bolsonaro e um local de confiança para muitos fiéis”.

As plataformas de redes sociais são protagonistas desse fenômeno. O TSE tem buscado monitorar e regular espaços como Whatsapp e Telegram, mas não o suficiente, segundo Jamile Santana. “Precisamos cobrar também as plataformas. Essas empresas são milionárias e multinacionais. Precisam ser reguladas”, afirmou. “As plataformas são tão utilizadas pelos políticos que eles não respondem mais aos repórteres. Não há como confrontar a realidade com a fala desse político se ele só está na rede social”, completa Tatiana.

Os ataques de gênero foram pautados em relação à raça também. “O ataque que uma mulher negra sofre, é diferente de um ataque que uma mulher branca sofre. É necessário respeitar a interseccionalidade”, lembrou Jamile. Para Tatiana Farah, o jogo é duro, principalmente para as mulheres, mas acredita que vale a resistência. “Quando a gente fala de política, a gente vai apanhar. Mas a gente não pode sair do debate. Se defenda. Busque ajuda. Se preserve o máximo que puder, mas não saia do debate”, finalizou a jornalista.

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