A fotografia pelas lentes de Renata Victor
Por: Guilherme Anjos
Renata Victor é fotógrafa, fotojornalista, graduada e pós-graduada em Design pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e mestre em História pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP). Ela possui mais de 30 anos de experiência na área da fotografia, e traz em sua bagagem passagens por veículos como o Jornal do Commercio/PE, onde trabalhou durante 10 anos, de repórter fotográfica à editora de fotografia. Além disso, Renata é professora na UNICAP e coordenadora do curso de Fotografia. Nesta entrevista, ela fala sobre fotojornalismo, ética, e os desafios do curso de Fotografia na pandemia.
A Fotografia é, essencialmente, prática, e incentiva os estudantes a saírem e fotografarem o mundo. Como foi ensinar e aprender durante esses mais de um ano de pandemia?
A fotografia não é só prática, mas também teoria. As disciplinas que eu ensino envolvem tanto as partes teóricas quanto práticas da fotografia. No início da pandemia, fomos todos pegos de surpresa, mas tratamos de adaptar as atividades práticas para que os alunos pudessem fazer com seus smartphones, em seus ambientes domésticos, e que isso não viesse a atrapalhar a dinâmica da aula e nem o processo de aprendizagem. E, ao longo desses três semestres, eu só tenho me surpreendido positivamente. A produção dos alunos tem sido muito interessante, tanto é que temos uma série de trabalhos que irão concorrer no Expocom 2021.
Como era o mercado da fotografia anos atrás em comparação com os dias de hoje? Com as mídias sociais e um maior protagonismo do jornalismo multimídia, o fotógrafo ganhou mais força no mercado?
O que eu acho que mais mudou da fotografia analógica para a digital, e com as mídias sociais, é que o fotógrafo hoje é muito mais independente. Ele não depende de estar vinculado a um jornal para publicar suas fotos, então hoje ele tem um poder e uma autonomia de comunicar, de divulgar o seu material, as suas imagens, de uma forma que antigamente era impossível.
Ao longo da pandemia, o fotojornalismo ganhou bastante destaque na mídia, e as fotos produzidas sobre as consequências do vírus se tornaram icônicas no ano passado. Qual a importância do fotojornalismo em um momento como esse?
O fotojornalismo é um instrumento de denúncia, mas ele também conta histórias. A cobertura fotográfica desta pandemia vai ser vista pelas próximas gerações através dessas imagens, do trabalho dos repórteres fotográficos, que estão trabalhando na linha de frente desde o início da pandemia. A função social do repórter fotográfico é de suma importância.
O fotojornalismo é também motivo de debates éticos, tanto entre o público, quanto entre os próprios fotógrafos. Como você vê a ética dentro do fotojornalismo, principalmente quando se trata do jornalismo de guerra, da cobertura de conflitos e tragédias?
A ética é um conjunto de valores, morais e princípios que nos ajudam a nortear a conduta humana na sociedade. E isso não foge ao jornalismo e ao fotojornalismo. Não foi a fotografia digital que nos permitiu manipular a imagem. No fotojornalismo, desde sempre, a imagem foi manipulável. Na hora em que o fotógrafo decide um determinado ângulo, ele está manipulando a imagem que ele está criando. Mas, no caso de uma manipulação digital durante os tratamentos de imagem, para pautas factuais, isso é quebrar a ética, uma ação antiética. Para isso, existem as academias, os conselhos editoriais e o próprio mercado de trabalho, para filtrar. Infelizmente, a ética profissional é pessoal. É o profissional quem precisa ter o senso ético na hora de fotografar. O certo é não violar os direitos, principalmente os direitos humanos.
O caráter documental é também muito inerente à fotografia e ao fotojornalismo. Mas quando falamos da história, da vida real, os registros históricos podem ser chocantes e assustadores. Como podemos identificar uma fotografia que possui um cunho documental, e diferenciar daquelas que têm apenas o intuito de chocar?
A fotografia documental difere bastante da fotografia choque. A fotografia para chocar tem uma função limitada, ela chama atenção, mas não passa dali, não tem uma função mais ampla. A fotografia documental é um registro cultural, artístico e autoral, que eterniza a narrativa de conflitos e de momentos históricos. Então, uma é muito resumida, limitada, na função apenas de chocar o espectador, e a outra é muito mais informativa, com uma carga cultural e artística enorme. Essa é a principal diferença.