A Estrada Amarela: novo livro de do professor Filipe Falcão
O sertão pernambucano como cenário de um conto de terror.
Por: Letícia Sarinho
O professor Filipe Falcão lançou na última quinta-feira (03) seu primeiro livro de contos, intitulado “A Estrada Amarela”, pela editora Estronho. Localizada no sertão pernambucano, a estrada é definida como solitária, perdida entre tantas rotas, quase abandonada e esquecida. Apaixonado pelo gênero terror e por literatura fantástica, o Jornalista, doutor em comunicação e professor universitário é um dos mais atuantes pesquisadores de cinema de terror no Brasil, já tendo lançados livros acadêmicos como Fronteiras do medo: quando Hollywood refilma o horror japonês (2015) e A aceleração do medo: o fluxo narrativo dos remakes de filmes de horror do século XXI (2018). Agora, ele embarcou na aventura de escrever o seu primeiro conto, trazendo o sertão como palco de aventuras misteriosas.
A produção de A Estrada Amarela ocorreu durante o período de quarentena, momento no qual Filipe buscou refúgio no que mais gosta: literatura fantástica e cinema de terror. Quanto a escolha do cenário, o Jornalista relata ter um carinho muito especial pelo sertão, o que fez com que a definição acontecesse de forma natural. “Uma região castigada pela seca, é verdade, mas dona de um visual único. Lembrei das estradas do sertão pelas quais eu próprio já transitei como pontes para histórias aguardando personagens”, destaca Filipe.
Nesta entrevista, Filipe Falcão aborda as questões que envolvem seu novo livro e os contos de terror, como também pontua sua experiência acadêmica e com o audiovisual. Confira:
1. Como foi a experiência de se aventurar na produção de um livro conto? Você sentiu alguma diferença na produção, em comparação com seus projetos de livros acadêmicos?
Muito positiva. Esse é o meu quarto livro, mas é o primeiro de contos. É sempre uma experiência muito única escrever livro, eu acho que o processo criativo é muito único, independente de ser livro acadêmico, romance, novela, poesia. Sempre é muito especial e bate uma adrenalina gostosa, uma sensação de ansiedade, mas no bom sentido, pois você está criando algo. Claro que o livro acadêmico é bastante diferente de um livro de contos e vice-versa, mas o que eu senti não foi muito bem uma diferença, são formatos diferentes, mas eu acho que o envolvimento acaba sendo parecido, sejam contos ou livros acadêmicos ou capítulos para livros. Eu tento escrever de uma maneira que seja agradável de ser lida e que tenha uma funcionalidade dentro daquilo que se propõe.
2. Por que a escolha de atuar como pesquisador de cinema de terror? O que te encanta no terror?
Eu sempre gostei muito de cinema de terror, desde criança sou um apaixonado por cinema de terror. Já tinha esse interesse quando terminei a graduação, em seguir fazendo pesquisa e aprofundando no estudo. Claro que, na ocasião, eu também gostava de ser um jornalista de veículo de estar na rua, na labuta do dia-a-dia, mas eu sentia falta de estudar e de pesquisar. E aí, quando eu resolvi fazer uma especialização em jornalismo cultural, antes mesmo do mestrado e do doutorado, eu resolvi escolher algo voltado ao cinema de terror, porque é uma área que eu sempre gostei, tanto que nunca pensei em pesquisar outra coisa, porque para fazer pesquisa, tem que gostar e conhecer muito bem sobre o assunto escolhido. Então, eu sempre vi pesquisa como uma coisa que deve ser prazerosa e para mim é muito prazeroso estudar sobre o cinema de terror. Por isso, se tornou um caminho muito natural. O que me encanta no terror, eu acho que é a narrativa. Nós consumimos terror desde sempre, só que com outros nomes, por exemplo, histórias que se escuta quando criança, folclore, até os contos religiosos lidam muito com essa coisa do terror.
Eu acho muito muito criativo acompanhar histórias de terror e permitir que elas não apenas assustem, porque o bom filme de terror ou o bom livro de terror, vai além disso, não é só o susto pelo susto. Vai ter críticas, vai ter inúmeras camadas de leitura que podem permitir até interpretações culturais, sociais, econômicas, políticas. Então, acho que o que me encanta realmente é isso, não é só um susto, não é só o medo, não é só o grotesco, mas é todo o contexto que está envolvido na obra.
3. Como é o cenário do campo acadêmico nesta área? Existem muitos pesquisadores?
Olha, o cenário do campo acadêmico é bastante interessante e promissor, é, inclusive, um campo que está crescendo. Acho muito interessante porque existem pesquisadores do gênero de terror em diversas partes do Brasil e do mundo, na verdade, mas em termos de Brasil, há pesquisadores de nomes importantes aqui em Pernambuco, em São Paulo, no Sul, em Minas Gerais, em diversos estados. É muito curioso ir para congressos de comunicação, como SOCINE, INTERCOM, e encontrar uma mesa voltada para o terror. Nós estamos, inclusive, lançando agora uma revista acadêmica voltada para o terror, que é um desejo bastante antigo dos realizadores.
4. Em relação ao PIBIC, você orienta alunos interessados no tema do cinema de terror?
Os meus orientadores pesquisam comigo sobre a direção de fotografia no cinema pernambucano, iluminação e enquadramento, como a mise-en-scène é trabalhada… mas, não trabalho com cinema de terror no PIBIC, apesar de já ter recebido convites de alunos. Quem sabe em breve?
5. No que tange às produções audiovisuais, você como profissional sentiu algum impacto devido à pandemia?
Olha, as produções audiovisuais, dentro do que se espera da pandemia, estão passando por um processo de adaptação. Existem alguns filmes que surgiram durante esse processo, o meu livro surgiu durante esse processo, eu escrevi durante a pandemia, quase como uma terapia, e aí você começa a identificar narrativas, filmes como Host que foi todo gravado dentro do que seria um ambiente de uma sala de aula virtual, como um Google Meet. Acho que acaba sendo muito mais importante do que adaptar o formato, mas perceber o tipo de construção de medo que começa a ser trabalhado. Estamos tendo uma experiência que dialoga, acima de tudo, com medo; é o medo do vírus, o medo da perda, o medo do medo do contágio. São medos que o cinema de terror já trabalha desde que ele existe, então acho essa temática vai ser ainda mais intensificada, já está sendo mais intensificada e talvez até trabalhar com alguns filmes que lidem com um terror mais voltado para uma questão dramática dentro dessa nossa realidade, o que está bastante próximo.