A resistência da pesquisa científica e sua importância para o Brasil

Como a iniciação científica pode contribuir para a formação contínua, em mestrados e doutorados.

Por: Letícia Sarinho

O Coordenador de Pesquisa e Inovação da Unicap, Dario Brito, e também coordenador do congresso da INTERCOM 2021, tem boas expectativas para a realização do evento que será sediado na Universidade. Nesta entrevista, ele destaca o que podemos esperar deste congresso e também pontua o cenário da pesquisa científica no Brasil, considerando os desafios atuais, envolvendo não só a pandemia como os cortes de investimentos. Dario apresenta as perspectivas para esta área, que apesar de passar por esse processo de recessão, vem se adaptando positivamente na Universidade Católica de Pernambuco. Confira: 

  1. Qual é a importância das pesquisas no Brasil?

Eu acho que na verdade essa pergunta pode ser expandida para qualquer lugar do mundo. A importância das pesquisas é a importância para a humanidade como todo; para a convivência em sociedade, para a produção do conhecimento, pois só há avanço quando se encontra melhorias, em todos os aspectos.

Eu diria que talvez, no Brasil, especificamente agora a gente vive um momento muito delicado, inclusive no mundo inteiro, a gente tá apontando pro horizonte, procurando uma saída por parte da ciência. A própria questão das vacinas na pandemia, todo estudo que é desenvolvido, toda a produção de conhecimento, só foi possível por causa da pesquisa. Talvez, no Brasil, seja mais importante nesse momento, fazendo essa comparação, porque ao mesmo tempo a gente encontra um cenário de bastante negacionismo. A descoberta científica promove um esclarecimento para a população, em todas as áreas, mas agora estamos com radar muito mais apontado para a área de saúde, de infectologia. Mas, se a gente expandir um pouquinho isso, encontramos por exemplo, problemas graves na área de comunicação, problemas que impactam de alguma maneira o setor econômico, e somente a pesquisa faz com que seja possível avançar, a partir do conhecimento.

2. Considerando o atual cenário de falta de investimento na área, na sua opinião, quais são as principais consequências?

As consequências da falta de investimento nas pesquisas são muito claras. A gente tá vivendo um momento particular, com grande parte dos financiamentos sendo cortados, em todos os níveis, desde bolsas de fomento à ciência, tanto de iniciação científica quanto pesquisas de ponta, a órgãos no âmbito do Governo Federal, como os ministérios que são voltados às pesquisas (Capes, CNPQ). Além desses, as próprias Fundações de apoio à ciência tem sofrido redução, demonstrando bem um reflexo do cenário que a gente tá vivendo, de recessão, potencializado pela pela situação da pandemia.

As consequências são completamente mensuráveis, porque muitas dessas pesquisas e avanços são interrompidos, laboratórios são fechados, testes são interrompidos, porque simplesmente a pesquisa não tem mais mais verba, não tem mais fomento.

3. Durante a graduação, muitos alunos se interessam em fazer PIBIC? Quais são os pontos positivos para quem ingressa na pesquisa científica?

Sim, muitos alunos se interessam em fazer o PIBIC, a gente pode observar o exemplo específico da Universidade Católica, que teve um crescimento, nos últimos cinco anos, de mais de 100% no número de alunos interessados. Hoje temos quase 500 alunos fazendo iniciação científica, em praticamente todos os cursos. Cada vez mais esse número aumenta, gente vem uma linha de crescimento, mesmo apesar de todos esses processos de reduções de bolsas no Brasil inteiro. Além de todos os obstáculos que são colocados, no âmbito brasileiro, de incentivo à pesquisa, particularmente, a UNICAP, tem apresentado um crescimento nesse cenário, meio que nadando contra a maré.

A continuidade de grande parte dos alunos que ingressam na iniciação científica na área da pesquisa, é um dos pontos positivos, pois, mesmo depois da graduação a tendência apresentada é que esses estudantes integrem em uma pós-graduação, um mestrado, um doutorado, alimentando novamente esse ciclo. Muitos dos nossos alunos, por exemplo, começaram com a iniciação científica e continuaram com pós-graduação, com mestrado, e retornaram à instituição como professores. Para além desse impacto mais visível, a gente tem a própria formação do aluno como como pesquisador, que promove melhorias no desempenho e na disciplina.

4. Quais características um aluno que faz PIBIC deve ter?

Além do que a gente já imagina, como um um desempenho acima da média, um compromisso muito grande não só com os estudos, mas com a pesquisa em si, eu diria que uma coisa que faz parte de um pesquisador, é a curiosidade. Então, uma característica nata é a sede pelo conhecimento, ter vontade de querer descobrir coisas. Isso move um pesquisador, em qualquer área da ciência.

5. Como foi/está sendo a adaptação para que os projetos de pesquisas continuem mesmo na pandemia?

Estamos tendo muitas experiências, porque a gente tem praticamente todas as áreas do conhecimento aqui na Universidade. Muitas das pesquisas tiveram que passar por adaptações, em diferentes fases da pandemia, para acompanhar os momentos de “abertura” em relação à quarentena. Se eu fosse falar de uma maneira geral, algumas pesquisas tiveram que ser refeitas, passando por estudos mais aprofundados de revisão bibliográfica, enquanto que outras, que tinham uma fase de coleta de dados, por exemplo, precisaram se adaptar, adiando a coleta ou fazendo uma análise a partir de prontuários, como foi o caso de pesquisas relacionadas à saúde.

A fase de coleta de dados e levantamento de campo, caso precisasse ser feita em um lugar específico, a exemplo de arquivos públicos, precisaram ser revistas, pois o deslocamento ficou impossibilidade durante um tempo. Então, a gente consegue ver um impacto geral, em todas as áreas, tanto nas de saúde quanto nas de humanas. Mas o que eu posso dizer, na verdade, é que a gente teve um número de desistência baixo, desde o início da pandemia, o que mostra, de alguma maneira, a adaptação dos pesquisadores. O surpreendente também foi que a gente teve premiação científica de trabalhos que foram completamente readequados. Isso é um reflexo positivo dessa adaptação que os pesquisadores tiveram de fazer.

6. O PIBIC é uma boa entrada para alunos que pretendem fazer mestrado, doutorado e assim por diante?

Então, é uma excelente entrada para os alunos que pretendem fazer mestrado, doutorado, continuar nessa formação “Stricto Sensu” que é como a gente chama. E aí eu vou dizer do ponto de vista de quem está do outro lado, em comissão de seleção de mestrado ou em bancas. A gente tem acesso ao que foi produzido por esses candidatos e é visível a diferença de um material de um aluno que passou por iniciação científica e outro que não. Não é uma regra, mas a gente vê, na grande maioria das vezes, que esse aluno que passou por iniciação científica tem um domínio maior de todo o processo que envolve a pesquisa.

7. Como coordenador do congresso da INTERCOM 2021, que será sediado na Unicap, em outubro, o que que podemos esperar do evento que marca o centenário de Paulo Freire?

Eu acho que não tem momento melhor para a gente fazer INTERCOM aqui na Católica, nesse Centenário de Paulo Freire, que teve sua vida dedicada à educação e a gente tá aqui trazendo toda discussão de comunicação, não só do brasil, como da América Latina e dos eventos internacionais que a intercom traz também, fazendo a comunicação e a pesquisa em comunicação do país voltar os olhos para nossa Universidade.

É um momento que a gente tem de celebrar algumas trajetórias dos cursos, dos cursos da Escola de Comunicação, notadamente o jornalismo que está fazendo 60 anos, então, são grandes motivos para celebrar, ao mesmo tempo numa Universidade que tem uma Cátedra, a Cátedra Luiz Beltrão, que deu origem à pesquisa em comunicação no Brasil, de maneira institucionalizada. Então, eu acho que é um ano bastante feliz para a Universidade sediar um evento dessa natureza. A própria temática geral do evento também é muito relevante nesse sentido, e o que a gente pode esperar, na verdade, é que essas discussões tenham um nível muito alto e muito reflexivo também. Assim como foi no primeiro congresso que a gente sediou, em 2011, que até hoje está na memória de quem faz parte da INTERCOM, de quem circula nos congresso, foi um evento muito impactante. A gente tem tudo para fazer, mais uma vez, um congresso inesquecível nesse sentido.