Por Ana Botelho
Recifense do bairro das Graças, Tanit Rodrigues estudou teatro na UFPE e, atualmente, cursa o segundo período de Jornalismo na Unicap. A formação em teatro garantiu a ela a participação em diversas produções do cinema pernambucano, como a série “Mulher Original”, dos curtas “Colômbia” e “Quando chegar a noite pise devagar” e do longa-metragem “Rio Doce”. O repertório de artes cênicas colaborou ainda para que ela iniciasse um estágio como social media e redatora na revista Continente, de jornalismo cultural.
A opção pelo jornalismo surgiu quando Tanit avaliou as dificuldades de ser artista no Brasil. “Tenho boas expectativas para o futuro agora. Infelizmente o Recife reflete algo que se vê pelo país., a desvalorização do artista.. Trabalhar com arte é trabalhar por amor e só por amor.” Na revista Continente, onde está há 3 meses, atua criando conteúdos para as redes sociais e escreve reportagens para a edição impressa e a digital. “A bagagem que eu tive nas artes e no cinema foram fundamentais para essa vaga, enriqueceu o meu repertório para escrever sobre o mundo cultural, o principal foco da revista.”, destaca Tanit.
A arte foi um elemento motriz na vida de Tanit, desde a infância. Uma maneira de burlar a sensação de não pertencimento, de não se encaixar em definições pré-estabelecidas de gênero. Sua personalidade feminina foi motivo de alvoroço e de bullyng. Assim como uma amargura, que foi crescendo ao longo dos anos. “O pessimismo, a depressão e o pânico eram fantasmas que começaram a me perseguir aos 16 anos. O mundo era uma escuridão silenciosa”. “Eu tinha uma visão muito pessimista sobre a vida, eu achava que não ia passar dos 18 anos.”. Hoje, a estudante de Jornalismo está prestes a completar 27 anos. Ela relembra como se achava uma menina fraca naquela época, incapaz de viver por muito tempo. Para superar a depressão procurou ajuda profissional.
Ainda adolescente, com 17 anos, uma ida ao dentista a fez conhecer a história de Raphaela Laet, uma influenciadora digital transexual, ao ler a coluna de uma revista. Tanit observou naquele momento que não era muito diferente de Raphaela. “Foi a primeira forma de identificação com outra pessoa, de uma jeito muito forte, que eu tive. Foi como se tivesse virado uma chave em mim, e eu sabia que em algum momento da minha vida, aquilo também iria acontecer comigo”. A partir daquele momento, tudo mudou, Tanit começou a perceber que aquele corpo não pertencia a ela. E uma pergunta surgiu: quem sou eu? “Hoje, eu tenho um vislumbre do que eu gostaria de ser, do que eu me tornei, mas ainda não tenho a resposta de quem eu sou.”
Tanit decidiu cursar artes e teatro na UFPE aos 19 anos. Lá, durante cinco anos, teve contato com uma grande diversidade de pessoas e fez amizades que duram até hoje. A experiência foi transformadora. Foi quando Tanit sentiu que precisava aproveitar o momento e mostrar ao mundo quem ela era realmente. “Eu tinha certeza que a minha transição iria começar, se não fosse naquele momento, não seria nunca mais.”. Contando apenas com o apoio de sua mãe, Tanit começou o seu processo de transição de gênero aos 20 anos. “Foi muito solitário, eu não tinha exemplos de travestis ao meu lado, era só eu.”
A criança medrosa se transformou em uma mulher de cabelos longos e olhar marcante, que se comunica por meio de seus aprendizados na arte e como futura jornalista. Que curte a boemia, cinema, música. E aproveita cada dia.