Por Rafael Gueiros
Educadora social, produtora cultural, fundadora e integrante da Coletiva Espaço Cultural das Marias. Janielly Maria é uma mulher negra e periférica, yalorisà da Egbè Ómò L’omi, mãe e estudante do curso de Jornalismo da Unicap. Neste espaço ela fala sobre sua escrita e seu lugar como estudante da Universidade Católica de Pernambuco.
“Eu sempre atuei na produção cultural, de roteiros e eventos. Foi nesse trabalho que encontrei minha paixão pela escrita. Janielly confessa que começou a escrever muito para falar o que sentia e não conseguia expressar. “Entendi que minha escrita não era só minha, ela atravessava outras mulheres negras, outras mulheres periféricas”. Janielly foi mãe aos 14 anos e encontrava dificuldades em manejar a vida acadêmica e a vida pessoal. “Tive de escolher entre estudar ou alimentar sua família”, lembra.
No entanto, em 2020, Janielly se inscreveu em uma seleção de bolsas para a graduação na Unicap. Achou que não passaria. Apesar de sua descrença, foi aprovada para o curso de Jornalismo. “Tem sido muito difícil estar nesse espaço, por um aspecto social mesmo. Internet, fatores sociológicos, equipamentos eletrônicos”, revelou sobre sua condição de estudante. “Mas vem sendo libertador me ver em outras pessoas. Eu me reconheço em outras pessoas.” Janielly cita suas colegas de turma, também mulheres negras, e relata a admiração pela coordenadora do seu curso, Carla Teixeira, que a estudante considera uma mulher inspiradora e atenciosa.
Atualmente, Janielly conta os segundos para voltar às aulas presenciais para que, como afirma, ela sentir ainda mais que pertence ao universo acadêmico. “A universidade é um espaço nosso e deveria ter mais dos nossos lá”, defende. A disparidade entre o número de pessoas brancas e negras no ensino superior, em um país em que a população é majoritariamente negra, é um dos pontos observados por Janielly. “É o racismo estrutural que nos afasta de espaços como a universidade e de outros lugares de poder”. Para a estudante, estar na Unicap é um grande passo para a luta por uma sociedade menos desigual. “Estar aqui é importante demais. Eu chego e sei que virão mais depois de mim”, diz essa mulher negra e de enorme potencial para seguir sendo uma agente dessa mudança.