Estudar jornalismo me modificou como pessoa e me transformou em um empreendedor social”. Daniel Paixão, estudante do 4.° período de Jornalismo e fundador do Fruto de Favela”

Por Conceição Tomaz

imagem: Acervo Pessoal
Adaptação: Ana Julia Duarte

Daniel Paixão, 20,  mora na Comunidade do Jacaré, no bairro de Maranguape I, no município de Paulista. Aos 14 anos, quando fazia atletismo, decidiu incluir os jovens nas suas corridas diárias pelo bairro. Segundo ele, os moradores encaravam essa prática com ressalvas. “Quando levava as crianças e adolescentes para correrem comigo, eu observava que muita gente tinha preconceito. Eles diziam ‘estão correndo para aprender a correr da polícia’, porque sabiam que éramos da comunidade do Jacaré”, afirma. 

No entanto, para Daniel, aquele movimento de estar fazendo algo juntos era maior que o estigma de ser um jovem da favela. “No meu coração, eu sabia que levar as crianças e adolescentes para correr pelo bairro era algo transformador, porque iria mudar a perspectiva e olhar deles enquanto pessoas da comunidade”, garante. 

Foi a partir de uma tragédia, em que um jovem foi assassinado em frente à sua casa, que Daniel, na época com 15 anos, deu início a semente onde nasceria o Fruto de Favela (@frutodefavela). “Um veículo de comunicação foi fazer uma matéria na comunidade sobre o caso. Aí no outro dia, na escola onde estudava, os colegas começaram a dizer que me viram na televisão. Mas o que me machucou foi que eles me viram na televisão com uma notícia triste da morte no Jacaré”, contou o ativista.

Dessa situação trágica, mas, infelizmente, comum nas favelas do Estado, Paixão desenvolveu dois sonhos. “O primeiro foi criar um projeto para ter um grande impacto social na comunidade, a ponto de transformar a realidade das pessoas que moravam ao meu redor. O segundo sonho foi estudar jornalismo para colocar as boas práticas da periferia na televisão”, revela Daniel. 

Fruto de Favela deriva da origem da palavra que se refere a uma planta. Para Daniel, o nome ‘favela’ é relacionado à violência e a conceitos pejorativos, e ele desejou mudar essa percepção das pessoas. “A escolha do nome é para que todas às vezes que ouçam ‘Fruto de Favela’, a sociedade possa olhar para as periferias e compreender que, nas favelas, existem pessoas, que por mais que estejam em contexto de vulnerabilidade social, conseguem construir projetos de vida. Conseguem se formar, frutificar e transformar a realidade em que elas estão inseridas”, explica Paixão. 

Ainda hoje, o Fruto passa por dificuldades financeiras. “Conseguir recursos para desenvolver um projeto como Fruto de Favela é muito difícil. Para distribuir cestas básicas, por exemplo, precisamos de recursos financeiros.” Ainda mais, para que as atividades continuem constantes, é necessário ultrapassar barreiras. “O estereótipo que há sobre as pessoas da favela ainda é um obstáculo. Esses dois desafios são o que mais pesa hoje”, finaliza o estudante.

Cursar jornalismo, segundo Daniel, trouxe muitas influências para as boas práticas de comunicação do Fruto de Favela. “Para além de um projeto que realiza serviços tecnológicos, sociais e pedagógicos, é também comunicação comunitária e conscientização ambiental. Então, fazer jornalismo é entender que essa ferramenta é social,” assegura.

Ele compreende que a graduação potencializou as ações de comunicação social na sua vida e no Fruto de Favela. “Fez com que eu crescesse e amadurecesse com os aprendizados em sala de aula. Não sabia, por exemplo, que o que desenvolvo no projeto tem a ver com folkcomunicação, entre outras teorias. Estudar jornalismo me modificou como pessoa e me transformou em um empreendedor social”, declara Daniel.

“O maior objetivo do Fruto de Favela é realizar o desenvolvimento comunitário de forma sustentável, garantindo às pessoas, em vulnerabilidade social, qualificação, oportunidade de emprego, geração de renda e acolhimento para poderem construir seus projetos de vida”, enfatiza. Para ele, o Fruto vai além da distribuição de cestas básicas. “Queremos que as pessoas ocupem espaços e vagas de emprego, diminuindo as desigualdades sociais na comunidade em que vivemos”, finaliza Paixão.


Imagens: Acervo pessoal