Professor, essa disciplina é muito difícil!

Quem nunca ouviu essa interjeição, especialmente no início de cada semestre. Em grande medida, ela traduz o desafio de trabalhar com novos conceitos, aprender novas práticas e ser desafiado a novas formas de aprender.

Trago o tema recursos educacionais digitais (REDs), porque intuo que sejam eles importantes mediadores para as transposições didáticas, proposição e formas de apropriação teórico-práticas e mobilização nos usos profissionais. Numa sociedade tecnomediada, as práticas de sala de aula também ganham novos contornos, com o necessário exercício crítico-reflexivo de discutir as interfaces tecnologia, comunicação e educação.

Mas o que são REDs? Antes de uma definição, cito alguns exemplos: livros digitais/audiolivros, bibliotecas on-line, e-books, vídeos, ferramentas de videoconferência, jogos, podcasts, infográficos, slides, portais e sites de internet, ambientes virtuais de aprendizagem,  laboratórios virtuais, simuladores de realidade virtual, metaversos, inteligência artificial. Neste sentido, podemos dizer que são objetos educacionais que fomentam a aprendizagem individual, por pares ou em grupo, em vista do desenvolvimento de competências e habilidades.

Via de regra são caracterizados como materiais didáticos ou recursos de interação para promover processos de aprendizagem individual, por pares ou em público. Combinam diferentes mídias digitais e processos comunicacionais para propiciar situações de aprendizagem mediados por docente. São incorporados na sala de aula e nos processos educativos para facilitar a comunicação e a colaboração, otimizar o desenvolvimento de competências e habilidades, promover o acompanhamento e a avaliação, promover práticas educativas exitosas e de inclusão, fomentar vivências e experiências de aprendizagem.

Com a pandemia da COVID-19, os REDs ganharam protagonismo e centralidade na mediação dos processos pedagógicos. Em poucas semanas, todas as aulas presenciais migraram para aulas em meios digitais, com uso de recursos educacionais digitais, tecnologias de informação e comunicação e outros meios convencionais. E aqui não podemos esquecer o crescimento da modalidade à distância, na formação inicial e continuada.

Na pandemia e no Pós, os modelos mentais nos arranjos da educação (Sistemas de ensino ou redes, gestores, orientadores, professores, estudantes, famílias, fornecedores de recursos digitais) foram desafiados. Novos e diversos são os contextos de uso, com finalidades e expectativa de resultados ou solução de problemas: para a gestão acadêmico-administrativa, nas práticas pedagógicas, especialmente, nas práticas docentes e discentes.

Aquela disrupção momentânea ainda exige muita pesquisa empírica e produção de conhecimento, para compreender transformações, negociações e resistências. Muitas práticas ensino-aprendizagem com usos de recursos digitais ainda reverberam em temas como legislação educacional, planejamento educacional, formação continuada de docentes, fluência tecnológica/formação em cultura digital e centralidade da tecnologia e da comunicação na educação contemporânea.

Uso propositalmente o adjetivo “momentânea”, para nomear uma intuição de que no retorno às aulas presenciais houve gradativo abandono dessa centralidade dos REDs. Contudo, a pandemia da COVID-19, evidenciou a necessidade mudanças na educação, da Educação Infantil à Pós-graduação, em todos os graus e modalidades.

Precisamos reconhecer que em cada recurso educacional há imaginários, expectativas e aspectos sóciotecnológicos, com dinâmicas comunicacionais. Um e-book tem outras características que um livro. Um laboratório virtual é diferente do que um laboratório físico. Uma vídeoaula é diferente do que uma aula expositiva dialogada. Um laboratório de realidade virtual, metaverso ou recursos de simulação, gameficação, storyteling, Google Earth ou estratégias de factchecking requer inovação para aplicações práticas. Cada recurso digital tem sua história, demanda de multiletramentos (para criação e para os usos), desafios e impactos nas aprendizagens.

Cada recurso digital requer aparatos/ferramentas, conexão e letramentos diversos, o que em muitos casos é um déficit estrutural pouco discutido e pesquisado. No contexto da cultura digital, em que a tecnomediação dos processos ensino-aprendizagem é central, pesquisar os REDs aponta insumos para repensar práticas, formular políticas, planejar a formação continuada e atualizar os debates e temas de pesquisa na área da Educação.

Talvez, um dos maiores desafios seja olhar esse fenômeno desde uma Teoria Crítica da Educação. Ouso afirmar que os recursos digitais são uma realidade onde as dimensões tecnológica e comunicacional são elementos-chave da Educação Contemporânea e ângulos das pesquisas de uma Teoria Crítica da Educação. Isto porque, tecnologia e comunicação são mediadoras de relações, tornam possível a construção de identidades comuns e moldam experiências. Tecnologia e comunicação são parte constituinte de poderosos processos e modalidades de ação que (re)modelam a existência humana.

Por isso, caracterizar, compreender e analisar os materiais didáticos e os mecanismos de interação no contexto da promoção da aprendizagem é um desafio teórico. Dito de outra forma: como aprendemos hoje? Ou: como tornamos menos difícil o processo de mobilizar conhecimentos para identificar problemas e criar soluções.

Por

Carlos Alberto Jahn
jahn.carlos@unicap.br

Links
https://www.clipescola.com/recursos-educacionais-abertos/

https://educacaoconectada.mec.gov.br/recursos-ed-digitais
https://toolkit.plataformaedutec.com.br/files/apresentacao-grupos-toolkit.pdf