Por: Lula Pinto
Design: Ana Julia Duarte
Mais de 90% da população brasileira mora em cidades. As cidades são o grande teatro da vida humana, onde o mercado de trabalho é mais ativo, onde a urbanização é mais intensa, onde estão a maior parte das oportunidades de emprego e trabalho no campo da comunicação social. Grandes e pequenas histórias, percursos de vida, centros de decisão política e econômica, dramas e conflitos encontram seu lugar nas cidades.
Ou seja, há grandes chances de você atuar como jornalista em um centro urbano. Você conhece a cidade em que mora? Não falo de conhecer a história da formação do município – o que é importante também e ajuda no desenvolvimento de narrativas e interpretações de fatos ocorridos no chão da cidade.
Falo de saber a dinâmica da cidade onde você mora, conhecer os conflitos urbanos que fazem esse e aquele assunto serem mais delicados e tocarem uma quantidade maior de pessoas. Falo em saber os lugares onde mora a alma da cidade em que você vai atuar. Na maior parte das vezes, é nesses lugares que encontramos grandes histórias esperando serem “encontradas”.
Em muitas ocasiões encontramos essas histórias. Aliás, elas se jogam na nossa frente, mas não estamos atentos para perceber. É o que acontece quando não conhecemos nossa cidade – o que significa conhecer os lugares e as dinâmicas, mas principalmente saber conversar com as pessoas. Afinal de contas, as cidades são formadas por pessoas.
Nos últimos anos nossas cidades tem se transformado muito. Os processos de exclusão tem aumentado, a qualidade de vida tem decaído, a violência tem aumentado. Ao mesmo tempo, fica cada vez mais evidente que a cidade não pode ser vista somente como um lugar onde mora uma grande população com elementos comuns que faz as pessoas se sentirem conectadas.
A cidade está em disputa, é um grande território pelo qual se luta pelo direito de usufruto: circular livremente, aproveitar seus equipamentos públicos, praças, calçadas, avenidas, bares, restaurantes, sombras de árvore, o café pequeno na padaria, o chopp gelado naquele barzinho preferido, a certeza de água no encanamento e a tranquilidade de que a estrutura urbana é suficiente para evitar tragédias quando as chuvas vem, todos os anos, na mesma época.
Essas coisas todas atendem pelo nome de direito à cidade.
Penso que um jornalismo que não contribui para que todos e todas tenham direito à cidade é um jornalismo que não merece esse nome. Dai a necessidade de conhecer a cidade para além da história oficial que contam sobre ela; daí a precisão de conhecer os lugares em que a alma da cidade se esconde, esperando que alguém faça a pergunta certa e queira saber: como é seu nome?