Por Yuri Euzébio
Tem quem enxergue lado positivo na pandemia. Se houver mesmo, é nele que mora um sentimento que vem me consumindo nos últimos meses. A saudade. Sentimento tão bonito que criou-se até uma lenda de que a palavra seria exclusividade da língua portuguesa. Verdade ou não, fato é que esses infindáveis dias de quarentena modificaram nossa percepção das coisas e ajudaram a expandir nosso campo de visão, que já não era estreito.
Por exemplo, durante dois anos convivi, diariamente, nos corredores, escadas e salas que formam o campus da universidade com inúmeras pessoas. Mais ainda, morei por décadas durante algumas horas na biblioteca central, consumi banquetes fartos no complexo gastronômico da Rua do Lazer e tive conversas definitivas sobre a vida e o cenário do jornalismo mundial sentado na grama verde do jardim do Bloco G. Sinto até um pouco de vergonha disso, mas precisou de uma pandemia pra me fazer perceber o quão especial foram esses momentos.
Recentemente, em uma crônica deliciosa, a sabida professora Adriana Dória falou sobre a memória que cabe nas coisas, pego carona na ideia pra falar sobre os lugares. Quantas lembranças carinhosas guardo daquelas salas do Bloco A?? Não consigo nem mensurar. A 307 e a 510 são morada da saudade que não vejo a hora de revisitar. Aliás, sinto saudades imensas das inúmeras letras do alfabeto que possam existir sob forma de blocos da Católica. Blocos G, B, C, D, E e até o distante e austero J entram na conta. Incrível como nossa memória é construída também pelos lugares que frequentamos. Ainda mais quando se trata de uma relação intensa, vivida de segunda a sábado, por vezes ocupando o dia inteiro.
Além dos lugares, as pessoas dão sentido ao que se vive ali. Impossível não lembrar de Marcos “Gordinho” e a paz e segurança que ele transmite ao pensar naquele laboratório de rádio onde vivemos nossas primeiras experiências com a mídia sonora. Basta olhar pra Gordinho de dentro do estúdio que já nos sentimos mais calmos, tendo a certeza de que ele irá nos salvar de todo o mal que possa acontecer. Como falar do estúdio de TV sem, imediatamente, criar a figura do nosso herói Marcão na cabeça?? Ou então de Kety Marinho, Alex e Gustavo, verdadeiros diretores de externa nas nossas primeiras e tensas gravações na rua. Pessoas com sensibilidade e destreza para nos dizer o que vai dar certo ou não na matéria.Até o elevador da universidade ganhava novo sentido graças a Kimberly, a ascensorista mais fofa que se tem notícia. E o que falar do gigante Múcio?
Por mais surreal que pareça, sinto saudades até da fila pra pegar o elevador, que servia de desculpa pra fofocar ou de perder preciosos momentos procurando um texto na Copynet. Do molho especial de Beto Burguer, do suco inigualável do Açai do Bróder, da tapioca da tia ou de dividir um prato de yakisoba com todos os meus amigos. Até a pipoca da Rua do Lazer era diferente. Só quem já comeu sabe do que eu tô falando e pode julgar. Cria-se uma família ao longo dos quatro anos de curso, essa já é uma verdade muito bem enraizada no imaginário coletivo. Mas essas pessoas, que orbitam na universidade, também fazem parte da família que a gente ganha durante nossa vivência ali.
Claro que essa graduação ganharia outro sentido sem a presença dos grandes amigos que fiz dentro dessas salas do Bloco A. O que seria de mim nesses quatro anos sem a firmeza de Ariel, meu bromance à primeira vista? Ou as conversas com Gabi Agra, minha dupla de tudo e a quem sempre recorro seja pra conhecer algum artista novo ou pra discutir os rumos da nação?? Meu Deus! Não consigo imaginar esse curso sem os memes de Alejandro e Aracelly e nossas incursões por lugares loucos. Mesma coisa de Pedro, um lorde da cultura pop, ou Jonnas e suas frases de efeito impactantes. Não sinto exatamente saudade deles, porque continuamos nos falando diariamente, mas é impossível não lembrar deles quando vou, vejo ou escrevo algo relacionado à Unicap.
Há ainda uma saudade muito específica que é a da convivência presencial com os professores. Seja em uma piada do sempre otimista Cláudio Bezerra na 307 ou uma reunião de Pibic carinhosa com nossa mãezona Carla Teixeira, ou passar horas pós-última aula de sexta de Andrea Trigueiro conversando com ela, que é pura animação, sem ver a hora passar, ou anotando uma indicação de filme do Juliano Domingues, ou rindo de alguma história de bastidor jornalístico do mestre Alexandre Figueirôa, ou recebendo pizza na aula de Verônica Brayner (isso aconteceu!), ou em uma roda de debate organizada por um discretamente animado e instigado Lula Pinto, ou pegando dicas de peças de teatro com a elegante Stella Maris, ou ainda um grande momento do jornalismo pernambucano com Dario Brito, ou ir pra Toritama com Vlau, ou… ou… Posso passar o dia aqui relembrando. Há ainda aqueles que só conheci no ensino remoto, mas que já admirava de longe como a enciclopédia cultural que é Adriana Dória e os doces Filipe Falcão e Carol Monteiro ou quem admirei durante todo o curso e só encontrei fora de sala de aula pra pedir ajuda, que foi prontamente atendida, como Aline Grego, espécie de patrona do curso.
Enfim, do alto do último período da graduação e prestes a me formar me sinto como Emicida e escrevo como quem manda cartas de amor. Sou só gratidão e nostalgia. A Unicap vai ser pra sempre um ponto de encontro com essas histórias dos últimos quatro anos. E não vejo a hora de tudo isso passar para reencontrar algumas dessas pessoas e lugares, reviver momentos e criar novas lembranças. E acho que tá cada vez mais perto disso acontecer. Aos que voltarão ou que irão viver pela primeira vez nesse espaço peço, na verdade exijo, que aproveitem ao máximo. Passa mais rápido do que se pode imaginar.
Yuri Euzébio é formado em História pela UFPE e estudante do curso de Jornalismo do 8º período