O 46° Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação representa um marco na história da Intercom, a Sociedade Brasileira de Ciências da Comunicação. Pela primeira vez, o evento foi realizado em duas etapas: uma remota, entre os dias 29 e 31 de de agosto, e outra presencial, entre 4 e 8 de setembro. Além disso, uma série de mudanças foi implementada, como a possibilidade de pagar a inscrição somente após a notícia do aceite ou não do trabalho, bem como a opção de não ter o texto publicado nos anais do congresso e, assim, poder submetê-lo como inédito a uma revista científica.
Ao lado da professora Ariane Pereira, da Unicentro, assumimos o desafio de organizar esta edição do evento, missão assumida desde o ano passado pela PUC-Minas, cuja incansável equipe foi liderada com maestria pela professora Adelina de la Fuente. A organização foi impecável. O envolvimento e entusiasmo de funcionários, docentes e estudantes foi contagiante. Graças a esse esforço conjunto, nem uma peça esteve fora do lugar.
Tivemos 3108 inscritos no total. Nos Grupos de Pesquisa, foram 1767 trabalhos, dos quais 726 na etapa remota e 1041 na presencial. No Intercom Júnior, tivemos 560 artigos, sendo 276 no remoto e 284 no presencial. O Público somou 75 submissões; e o Expocom, em sua segunda etapa, 271. Isso não seria possível sem o árduo trabalho dos avaliadores, responsáveis por nada menos do que 2.401 pareceres.
Mais do que números, esse panorama demonstra a força do campo da comunicação no Brasil, apesar do contexto pandêmico e da crise político-econômica. A princípio, a Intercom parece ter chegado a um modelo de congresso inclusivo, adequado às circunstâncias e com chances de ser replicado nos próximos anos, após ajustes incrementais.
O 46o Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação é ainda mais especial para mim, em particular, e para a Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), sobretudo por uma dimensão simbólica. No dia 07 de setembro, em Assembleia Geral de Sócios, a nova gestão eleita para o período 2023-2026 tomou posse, tendo à frente, pela primeira vez em mais de quatro décadas, um docente e pesquisador da Unicap.
Essa simbologia tem uma uma história e tanto, porque a pesquisa em Comunicação no Brasil nasceu no Recife. Não é exagero afirmar isso, muito menos mania de grandeza – ao contrário, é grandeza, mesmo, e disso devemos nos orgulhar. Para ser preciso, a certidão de nascimento tem nome, sobrenome e endereço: Universidade Católica de Pernambuco, rua do Príncipe, 526, bairro da Boa Vista.
Foi na Unicap, em 1963, que o professor Luiz Beltrão fundou o Instituto de Ciências da Informação, o ICINFORM, atualmente denominado Instituto de Estudos de Convergência Midiática e da Informação. Essa experiência serviu de inspiração para, em 1977, o célebre egresso da Unicap professor José Marques de Melo fundar a Intercom nas dependências da Cásper Líbero, em São Paulo. Além do professor José Marques de Melo, outro egresso da Unicap presidiu a Intercom, o professor Gaudêncio Torquato, ambos à época docentes da Universidade de São Paulo (USP).
No discurso de posse, na PUC-Minas, mencionei que a história não se repete, mas, por vezes, rima. É assim que interpreto esse momento: uma rima rica com companheiros e companheiras de diretoria que se dispuseram a assumir essa missão, mas sobretudo uma rima com todo mundo que fez e faz a história da Universidade Católica de Pernambuco – funcionários, funcionárias, alunas, alunos, professoras e professores. Mais do que Juliano Domingues, quem assume a presidência da Intercom é um sujeito coletivo, é a Unicap, onde, em última instância, reside o DNA da entidade.
Uma excelente gestão para todas e todos nós. Viva Beltrão e José Marques de Melo. Viva a Intercom, o campo da Comunicação e a Democracia brasileira.
Por Juliano Domingues
Lindo texto Juliano Domingues e justa homenagem ao berçário da pesquisa em Comunicação, os egressos da Unicap e fundadores da Intercom.