Por Juliano Domingues
Engana-se quem pensa que a CPI da Pandemia terminou. Ela é um daqueles episódios que chega ao fim, mas não tem data para acabar, e isso se deve, sobretudo, à sua dimensão midiática, em um ambiente atípico em termos comunicacionais.
O confinamento e o distanciamento social incrementaram o consumo de mídia, principalmente de TV e de redes sociais digitais. As hashtags #CPIdaPandemia, #CPIdaCovid, #CPIdoGenocídio figuraram entre os assuntos mais comentados do Twitter e os canais por assinatura GloboNews e CNN viram sua audiência crescer consideravelmente com a transmissão ao vivo das sessões. O vídeo do ex-ministro Pazuello na TV Senado no Youtube tem mais de 850 mil visualizações e o de Fabio Wajngarten, ex-secretário especial de Comunicação Social, 650 mil, com direito a comentários como “melhor do que bbb”, “CPI é bbb para adultos kk” ou “Netflix é pros fracos”.
A amplificação midiática do trabalho da Comissão condicionou o comportamento de parlamentares, como o do relator Renan Calheiros, que chegou a criar uma caixa de comentários no Instagram para receber perguntas de integrantes da sua rede. A visibilidade das sessões se refletiu, ainda, em um aumento fantástico no número de seguidores. Em abril, o presidente da CPI, Omar Aziz, tinha 1 mil seguidores no Twitter; agora, soma 238 mil; algo semelhante ao crescimento do bolsonarista Marcos Rogério que, no mesmo período, passou de 7 mil para 203 mil seguidores.
Esses dados indicam que a CPI é, também, resultado de um novo ecossistema midiático, com impacto na esfera pública. Nele, uma lógica comunicacional centrada em indivíduos interconectados em escala produz uma determinada dinâmica de opinião pública que influencia práticas e racionalidades institucionais em um fenômeno que as ciências da Comunicação chamam de midiatização. Ele abarca, inclusive, a atividade política, cuja construção e propagação de sentidos passa a apresentar ritmo, gramática e formato particulares, em função das características das plataformas em que são propagadas.
A capacidade da CPI de produzir e disseminar conteúdo pautou a política nacional em 2021 e demarcou ainda mais a fronteira que separa apoiadores e críticos do governo federal. A entrega do relatório, na quarta-feira (20), marca o encerramento formal dos trabalhos, mas indica que a CPI deve se estender, pelo menos, até outubro de 2022.
Juliano Domingues, cientista político, coordena a Cátedra Luiz Beltrão de Comunicação
da Unicap.
Texto publicado no Jornal do Commercio no dia 24 de outubro de 2021.