Por Ana Carolina Guerra
Ouvi muitos especialistas, no começo da pandemia, afirmando que o isolamento poderia ser uma oportunidade para descobrir novos potenciais. Pensei de cara: esse povo só pode tá doido. E acredito que estavam, em parte, assim como eu. Das novas “habilidades” que acabei encontrando em mim -mesmo depois de um ano de muito chute de pau da barraca e retorno para me recolocar de pé-, a tranquilidade foi a que me surpreendeu. Acho que o frenetismo, a tensão e a rotina raramente surpreendida se estabeleceram em um local de comodidade. Me restou, depois de vários surtos, chamadas de vídeo para cantar parabéns e álcool em gel até nas verduras e nos sacos de farinha, me acalmar. Já que estava cumprindo os protocolos: isolamento, saudade de tudo e nostalgia.
Esse “potencial” me custou tempo, paciência -que nunca tive de sobra- e muito apego pela galeria de fotos do celular. Engraçado como, de modo geral, todos ao meu redor se descobriram da mesma forma, uma pessoa por vez, cada um no seu tempo (eu fui a última). Aliás, eu não teria chegado nesse nível de Monja Coen embaixadora da Ambev sem os amigos, e muito menos os familiares. Foi com eles que exerci a comunicação em sua verdadeira face. Falei dos anseios, medos, indignações políticas e, acima de tudo, das conquistas e dos projetos. Soube quem estava e está ao meu lado até para aturar os comentários esportivos. Esses coitados devem saber, a esta altura, tudo o que acontece na Fórmula 1 e nos esportes olímpicos. Agradeço aos que colocaram os meus pés no chão quando me perdi na imensidão da catástrofe, me acalmaram nos momentos de angústia, abriram meus olhos e, em seguida, lembraram de mim quando identificavam Zeca Pagodinho e Calypso em algum meme nas redes sociais.
Apesar da tranquilidade, na medida que o Brasil permite (se é que permite), sinto falta das tardes na Unicap, dos professores e dos encontros com os amigos. Espero que o pavão esteja bem e me pergunto como os patos estão depois de tanto tempo sem colocar os alunos para correr. A Rua do Lazer, silenciosa e tranquila ao meio-dia, me parece irreconhecível. A Semana de Integração com os alunos novatos, como seria? É, pelo visto eu sinto falta de tudo, para ser direta. Metade do curso segue à distância. Foi difícil me comunicar de longe, em um jornalismo calejado que tenta se reerguer. Inclusive, saudades dos colegas da redação. Os amo como parte de mim. No final, eu tenho que agradecer à tranquilidade por ter me ensinado a enxergar além das frustrações e incertezas, e entender que eu tive as melhores pessoas ao meu lado, responsáveis por me mostrar que, de alguma forma, eu precisava (sobre)viver um dia de cada vez.