Por Daniel França
A Católica recebeu na noite desta segunda-feira (25) o ex-aluno e repórter especial da GloboNews Geneton Moraes Neto. O jornalista participou de uma conversa com estudantes de Jornalismo sobre os desafios da profissão e bastidores de entrevistas. O evento foi realizado por meio do Instituto de Estudos de Convergência Midiática e da Informação (Icinform). Geneton foi apresentado ao público presente no auditório G1 pelo professor Luiz Carlos Pinto.
Geneton começou a trabalhar com jornalismo antes mesmo de entrar no curso da Católica. Aos 16 anos, ele passou a fazer parte da equipe de suplemento infantil do Diario de Pernambuco. Os textos chamaram a atenção dos editores até que surgiu a primeira pauta ‘mais séria’.
“O superintendente do jornal me pediu uma reportagem sobre as condições do Hospital Psiquiátrico Ulysses Pernambucano. Eu me infiltrei entre os pacientes e colhi depoimentos. Muita gente reclamava da comida. Quando fui ouvir a administração, o diretor disse que havia nutricionista e que a alimentação era boa. Isso me trouxe uma lição que levo comigo até hoje: a de que a realidade dos fatos é diferente da versão oficial”.
Outra dica dada pelo veterano profissional aos estudantes é o cuidado com o texto. Para ele, escrever bem é escrever de forma simples. “A tradição bacharalesca no Brasil é muito forte no texto jornalístico. Temos que buscar a prosa simples e instruída”, disse ao citar o colega Paulo Francis.
A questão do diploma para jornalistas também entrou na discussão. Na opinião de Geneton, a exigência e a obrigatoriedade não fazem diferença. No entanto, ele defendeu a importância dos cursos de Jornalismo. “Ninguém fica mais burro ao estudar. O conhecimento e a formação acadêmica são importantes”.
Sobre o perfil profissional exigido no dia a dia da imprensa, Geneton foi enfático ao ressaltar que o repórter não pode ter uma visão ‘entediada’ dos fatos. “Os melhores jornalistas de redação são aqueles que investem em si, tomam a iniciativa e já chegam com a pauta pronta”, explicou ele ao contar como conseguiu uma entrevista com um militar do Pentágono anos depois dos ataques terroristas de 11 de setembro.
Um quarto avião havia sido sequestrado e ainda estava no ar em direção à capital americana quando os EUA tomaram a decisão de derrubá-lo. Um caça chegou a decolar. Enquanto os tripulantes e passageiros tentavam dominar os terroristas o avião comercial caiu antes mesmo da intervenção militar. O piloto do caça que teve a missão abortada foi o personagem de uma entrevista especial de Geneton.
“Fiz uma pesquisa na Internet e descobri o telefone residencial dele (do piloto). Gastei apenas 15 dólares no cartão de crédito. Já cheguei com a pauta produzida, entrevista marcada de casa mesmo e depois foi só cumprir a burocracia de chegar nos EUA”, contou Geneton ao mencionar a ferramenta de busca de dados Intelius.
O ex-aluno da Católica coleciona entrevistas com dezenas de celebridades. Ele exibiu trechos engraçados com o ator Ney Latorraca, com o ex-presidente americano Jimmy Carter, Pelé, o cantor Fagner, Paulo Maluf e outros momentos mais tensos com os generais Leônidas Pires e Newton Cruz. “O princípio da entrevista deve ser o da prospecção da realidade e não da congratulação”.
Essa prospecção da realidade fez Geneton entrar para a ‘lista negra’ de dois cantores. Chico Buarque e Roberto Carlos. “Chico não fala mais com o Fantástico porque um suposto meio irmão dele alemão ganhou mais destaque no programa que o disco que ele estava lançando na época. Já Roberto Carlos prefere não me dar entrevista porque em uma delas eu perguntei sobre o acidente que o teria feito perder parte da perna. Não há assunto proibido em entrevista, mas é preciso saber perguntar”.
Sobre a cobertura jornalística do atual momento político do Brasil, Geneton criticou o que ele chamou de ideologização para a direita e para a esquerda. “A primeira vítima dessa contaminação por paixões ideológicas é o jornalismo”. Mas ele se mostrou otimista quanto ao futuro da profissão. “Graças à internet, nós temos uma facilidade enorme de acesso à informação. Acredito que a credibilidade é o que vai salvar os tradicionais títulos da Imprensa”.