Por Eduardo Montenegro
Foi lançado, no último dia 17 agosto, o livro Viagem ao Norte – Apontamentos de José do Patrocínio, organizado pelo jornalista, pesquisador e professor Ricardo Japiassu Simões, na livraria SBS, localizada no térreo do Bloco A. O livro é uma coletânea com crônicas de José do Patrocínio quando este veio ao Nordeste para cobrir uma terrível seca que assolava a região.
O lançamento contou com um bate-papo entre o professor Ricardo Japiassu Simões e o seu colega Thales Castro, professor da Unicap e Presidente da Sociedade Consular de Pernambuco. Thales, que escreveu o prefácio do livro, caracterizou José do Patrocínio como um homem que tinha um olhar de embaixador, que enxergava as coisas por fora e não como alguém do mesmo país. “É um resgate histórico com repercussões para uma série de lados”, contou o professor.
Em sua fala, Japiassu abordou um pouco da biografia do abolicionista e republicano, um homem nascido de uma negra com um padre, criado fora da senzala – um homem que, futuramente, se tornaria o segundo maior líder abolicionista do Império, sendo ele a pessoa que assinou a Lei Áurea junto com a Princesa Isabel em 1888. Ele também foi jornalista do Gazeta de Notícias, o jornal mais moderno da Corte na época do Império do Brasil.
O primeiro contato entre pesquisador e objeto de pesquisa foi durante doutorado em São Paulo, quando Japiassu tomou conhecimento da primeira viagem de Patrocínio ao Nordeste do País, em 1882. O jornal em que o republicano trabalhava enviou-o para cobrir uma rigorosa seca no Nordeste, responsável pela morte de mais de 500 mil pessoas. José do Patrocínio foi encarregado de fazer um romance intitulado “Os Retirantes”, publicado em 1879 (havia chegado aos litorais nordestinos em 1878). Ele aproveitou a oportunidade e fez crônicas de viagens, publicadas nos rodapés dedicados a folhetins – romances que misturavam ficção e notícia – e nomeou-as de Viagens ao Norte, e isto explica o nome do livro.
“Foram 10 crônicas de viagens e estavam inéditas em livros. Eu compilei, atualizei a ortografia, mas não mexi nas palavras”, falou o organizador. “A temática foi o que eu achei de mais escabroso nessa seca. Por exemplo, mulheres tiveram que vender os dentes e se prostituíram para não morrer de fome. Foi uma calamidade, um absurdo”. O processo de criação do livro durou um ano.