Para os alunos da Católica, o dia do Jornalista foi de celebração mas, sobretudo, de reflexão. No centro do debate, a relação entre mídia, representação social e sexualidade
Por Bruna Bessa
No último dia 07, os estudantes do curso de Jornalismo participaram do bate-papo “A imprensa saiu do armário?” com Julieta Jacob, jornalista, educadora sexual e mestranda em Direitos Humanos (UFPE), e Luiza Assis, jornalista, ex-aluna da casa e hoje mestranda em Sociologia (UFPE).
Julieta, que também edita o blog Erosdita, traçou um perfil histórico do discurso jornalístico brasileiro sobre a temática LGBT. Já Luiza abordou a maneira como a mídia tem tratado esse assunto atualmente, a partir de dados do seu trabalho de conclusão de curso em monografia, em que investigou 11 anos de cobertura da Parada Gay nos jornais locais.
O aumento gradual do espaço dedicado a temáticas LGBT na imprensa foi um dos principais aspectos destacados pelas duas convidadas.
“Será que hoje o jornal tem dado maior visibilidade à Parada Gay por conta de uma abordagem sensacionalista ou realmente tem o objetivo de dar voz a esse tipo de assunto?”, indagou a professora do curso de Jornalismo da Católica Andrea Trigueiro, mediadora do debate.
Como resposta, Luiza apontou que devido à mudança do local da Parada para a Avenida Boa Viagem e ao aumento do número de participantes, a cobertura de certos jornais tem sido, de fato, mais ampla. “Isso ocorre mais por conta do critério de noticiabilidade relativo a quantidade de pessoas na Parada”. Entretanto, destacou, a abordagem, no geral, ainda é bem conservadora e frequentemente homofóbica.
Tabu e preconceito
Apesar desse aumento gradual em termos de visibilidade, Julieta destacou que o tema ainda é tabu nas redações. “Há editorias para vários temas. Por que não há uma para abordar especificamente sexualidade?”, questionou. A resistência a falar abertamente sobre o assunto seria reflexo, segundo ela, do forte preconceito compartilhado na sociedade brasileira. Para ilustrar, Julieta exibiu reportagem feita por ela na Parada Gay de Toronto, no Canadá, e a do Recife.
Tanto Julieta quanto Luiza destacaram, ainda, que as coberturas jornalísticas tendem a negligenciar o viés político do tema e a reproduzir estereótipos que reforçam preconceitos. “Jornalistas também são educadores. É preciso que, desde agora, ainda na faculdade, vocês estudantes fiquem atentos a isso”, ressaltou Luiza.
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