QUEM É JOSÉ COMBLIN?!

O PADRE JOSÉ DOS POBRES

As escolhas que ele fez,
não lhe deram um reinado,
mas lhe deram lucidez:
um irmão ao nosso lado!

Sem temor da releitura,
com o olhar que vai lá dentro,
elegeu sempre a procura
e entendeu Quem é que é o Centro!

O seu longo aprendizado
não foi só de academia.
Nem ficou daquele lado.
Junto aos pobres, sua alegria!

Descobriu que a liberdade
é o presente que humaniza.
Sempre em busca da verdade,
foi suor, bem mais que brisa.

No poder, fosse qual fosse,
suspeitou uma impostura:
pois o Mestre, firme e doce,
foi perdão, paz e bravura!

Não poupava a Instituição
que, chamada a ser serviço,
trai a fé, na contramão,
com o olhar um tanto omisso.

Sim, ao Reino deu seu brio,
não às púrpuras e às palmas!
Entendeu que o desafio
é o humano: corpos e almas!

É no grito do pequeno
que de Deus se escuta a voz:
pois é ali que se faz pleno
o que o céu pede de nós!
(J. Thomaz Filho)

Com patrocínio do Programa de Cooperação Acadêmica sobre Religiosidade Popular e Poder no Nordeste, coordenado no Recife pelo professor Luiz Carlos Marques, um grupo de 13 professores, estudantes e ex-estudantes do Mestrado em Ciências da Religião da Unicap realizou neste final de semana, 25 e 26 de agosto, uma excursão a Santa Fé, na Paraíba, em busca da memória de José Comblin. Participaram da animada e proveitosa excursão acadêmica: Carlos Vieira, Karina Bezerra, Paulo César Pereira, Walter Amaral, Mariano Vicente, Drance Elias, Wilson Jansen, Gilbraz Aragão, Luiz Carlos Marques, Newton Cabral, Zuleica Campos, Maria do Rosário Catão e Abraão Silva.

A programação constou de visita ao Santuário do Padre Ibiapina em Santa Fé, Solânea, Paraíba, onde estão o túmulo e o Memorial do Padre José Comblin – que se dizia inspirado na sua missão evangelizadora pelo grande peregrino e construtor de Casas de Caridade, que foi Ibiapina (1806-1883). Tivemos uma conversa gostosa com a comunidade e a irmã Monica Muggler, companheira de Comblin, sobre a Pessoa e o Pensamento do padre José, além de uma discussão sobre os rumos das Religiões Populares – que constituíam temática de predileção de Comblin, junto com a questão da Liberdade do Espírito. Em pauta também a criação de um Núcleo de Estudos sobre José Comblin na Unicap, que é herdeira da sua biblioteca pessoal.

José Comblin (1923-2011) continua sendo uma figura simbólica para muitos cristãos e cidadãos espalhados pelo mundo e, sobretudo, na América Latina e no Nordeste brasileiro. Nele, reconhecemos um dos teólogos da aurora da Teologia da Libertação – de modo especial da Teologia da Enxada – com uma produção privilegiada, seja quanto à qualidade, seja quanto ao seu incansável ritmo de produção, destacando-se a publicação, até o final de sua vida, de centenas de artigos e mais de setenta livros. Comblin se mostrou um apaixonado da causa libertária dos pobres, na perspectiva do seguimento de Jesus. Por eles e com eles viveu e morreu, sempre educando para uma esperança militante.

Tornou-se conhecido como missionário e profeta, famoso por incomodar e desinstalar, por denunciar o culto religioso e pregar a memória de Jesus Cristo, apontando as mazelas e armadilhas dos poderosos e das instituições, e, ao mesmo tempo, lembrando que a “esperança dos pobres vive”. Um intelectual de inteligência privilegiada, dotado de profunda erudição, o que sempre soube combinar com uma capacidade ímpar de clareza, simplicidade e força de testemunho. Como colaborar para que as novas gerações possam acessar o percurso intelectual de Comblin e se deixar sensibilizar pelo seu engajamento e pelas suas causas? Foi essa a pergunta mobilizadora da nossa excursão, que trouxe as seguintes propostas de encaminhamento, que deverão confluir para um futuro Núcleo de Estudos sobre José Comblin na Universidade Católica de Pernambuco:

1. Formação de grupo de estudos sobre José Comblin no Mestrado, sob animação de Paulo Cesar, que deve gestar um projeto sistemático de pesquisa, articular semana de estudos com a UFPB e outros grupos interessados em Comblin, além de promover intercâmbio com a equipe do seu Memorial em Santa Fé.

2. Criação de uma página na internet sobre os grupos e atividades que estudam Comblin na região, focando e favorecendo o acesso à sua biblioteca na Unicap, sob liderança de Carlos Vieira, do Humanitas da Universidade.

3. Organização, em 2013, de um número temático da nossa Revista Paralellus, com reflexões sobre a obra de Comblin e artigo inédito dele, sob liderança de Mariano Vicente e Walter Amaral.

4. Lançamento do livro póstumo de Comblin na Unicap, no Colóquio Religiões, Identidades e Diálogos, do Mestrado, em 9 de novembro próximo, responsabilidade de Drance e Gilbraz.

5. Disponibilização de um laboratório de história que está em construção, para digitalizar os arquivos pessoais de Comblin e empreender o tratamento crítico do material, que deverá ser apresentado na internet, responsabilidade de Luiz Carlos e equipe.

Que esse trabalho de pesquisa e comunicação sobre Comblin inspire mais rigor acadêmico e maior compromisso profético nas Ciências da Religião da gente, em coerência com o mestre cujo pensamento pretendemos estudar melhor. E todos estão convidados para o mutirão!

Acesse aqui o site do Memorial José Comblin
(aproveite e faça um passeio virtual).

Saiba mais sobre Comblin aqui no blog.
Veja aqui o livro póstumo de Comblin.
Paulo Cesar escreveu dissertação sobre Comblin,
 cujo índice pode ser baixado aqui e texto completo aqui.
Alberto Oliveira fez dissertação sobre Ibiapina,
cujo texto pode ser baixado aqui.
Baixe aqui o artigo de Gilbraz:
 “A religiosidade popular e a fé cristã”.
Veja mais religiões pelos sertões aqui.