Elementos de sua teologia

O período vivido no continente latino-americano permitiu a Comblin entrar em contato de maneira mais profunda com a realidade e a teologia latino-americana, que se constituía naqueles anos como a teologia da libertação. Realiza inúmeras viagens por quase todos os países do continente, formando uma rede de contatos com bispos e teólogos latino-americanos ligados a essa linha teológica. Isso lhe deu a possibilidade de participar das mudanças na Igreja da América Latina, proporcionadas pelo Concílio Vaticano II, consolidadas pela Conferência de Medellín e confirmadas em Puebla.

O deslocamento geográfico, cultural, social e teológico realizado pelo nosso autor é convergente com a consolidação da teologia latino-americana, que se constitui fora da centralidade europeia. Esses dois fatos serão refletidos em sua obra teológica. De suas primeiras publicações, eminentemente ligadas ao contexto europeu, em que falava de revolução e paz, os temas foram cada vez mais deslocados para a realidade latino-americana.

A nosso ver, essa “nova etapa de produção”, marcada pela dinâmica da teologia latino-americana da libertação, permitiu a Comblin revelar três características que identificam seu fazer teológico. A primeira pode ser definida pela permanente busca inicial, ampla e profunda, de compreensão da realidade para, num segundo momento, emitir um discurso teológico. Se fizermos uma analogia com o método V-J-A (Ver-Julgar-Agir) e estabelecermos uma graduação entre as três vertentes, afirmaremos que o forte de Comblin se situa no Ver.

A segunda característica é a centralidade antropológica, que marca sua construção teológica. Comblin escreve e pensa sua teologia com um objetivo preciso: ajudar o homem a transformar-se e tornar-se aquilo para que fora chamado por Deus (ser cada vez mais humano).

A centralidade do humano em sua obra é essencial, o que o leva a afirmar: “A humanidade não é um tema entre os outros dentro da Teologia, mas é o tema que é central”. Na dinâmica da teologia latino-americana, Comblin assume a compreensão do humano a partir da opção preferencial pelos pobres. Daí em diante, abandona o projeto de oferecer um modelo de humanidade e trabalha considerando as necessidades e demandas humanas para, uma vez baseado em sua análise contextualizada, ter condições de oferecer alguma reflexão teológica que possa colaborar na restauração do respeito ao “não-homem”.

No giro epistemológico de sua abordagem antropológica, Comblin encontra o rosto do humano que sua teologia deve tocar: é o rosto do homem pobre latino-americano. Uma vez situado na América Latina, Comblin assume o pobre como o protagonista bíblico, que é definido em Puebla como “as grandes maiorias que não conseguem satisfazer suas necessidades básicas de alimentação, saúde, habitação, educação e emprego. A pobreza deve ser compreendida no sentido concreto e material. Não se trata de disposições psicológicas interiores”.

Levando-se em consideração sua história (contexto social e eclesiológico), podemos afirmar que Comblin se encontra em uma situação peculiar que podemos dizer “de fronteira”, ou seja, está situado entre dois contextos históricos: o europeu, em que se formou teologicamente, e o latino-americano, em que produz sua teologia de maneira contextualizada.

Daí decorre a terceira característica, que neste artigo é de essencial compreensão: a obra de Comblin é evolutiva. Sua base de formação teórica e a experiência pastoral e teológica latino-americana lhe permitem ressituar os temas de que trata ao longo dos anos. Ou seja, um mesmo tema pode ser retomado em períodos e épocas diferentes, e, por estar ligado à realidade, reflete em si mesmo sua transformação.

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