Portal de Conferências da Unicap, v. 2, n. XXIII, 2021: Semana de Estudos Linguísticos e Literários da Unicap

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A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NEGRA NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA NO RECIFE: UMA ANÁLISE DO CONTEÚDO DOS GÊNEROS TEXTUAIS
senhorita ODAILTA ALVES DA SILVA

Última alteração: 2021-10-21

Resumo


De acordo com Bakhtin (1992, p. 274), os gêneros discursivos são caracterizados por três elementos: a construção composicional, o estilo e o conteúdo temático. É com foco nesse último elemento que desenvolveremos essa pesquisa com o objetivo de analisar como os conteúdos presentes nos gêneros textuais, utilizados nas aulas de Língua Portuguesa das escolas municipais do Recife, estão contribuindo para o fortalecimento (ou não) da identidade negra. Ao selecionar apenas poemas de Vinícius de Moraes e Cecília Meireles e invisibilizar as escritas de Conceição Evaristo e Solano Trindade, por exemplo, o(a) professor(a) assume uma postura ideológica e racializada, na qual projeta escritores brancos e silencia os negros. Por que não trabalhar um “artigo de opinião” problematizando questões raciais? Por que não estudar o gênero “biografia” a partir de uma personalidade negra? Por que não analisar o gênero receita  com o “acarajé”? Quanto ao trabalho com as temáticas dos gêneros textuais, dentro da perspectiva étnico-racial, os educadores possuem dois caminhos: construir um imaginário positivo acerca da negritude, ou fortalecer um imaginário racista que invisibiliza o povo negro no currículo ou limita-o à escravidão, miséria e marginalização; de acordo com Silva, “quase toda representação do negro no livro didático pode concorrer para a sua auto-rejeição e rejeição ao seu outro assemelhado” (2001, p. 53). Trata-se de uma pesquisa quanti-quali, uma vez que observaremos a quantidade de escritores(as) brancos e negros e de textos contemplando a temática, e também analisaremos a qualidade desses textos no que se refere às questões raciais, como a identidade negras é construída a partir desses gêneros discursivos. O corpus dessa pesquisa será o caderno de Língua Portuguesa, do 9º ano, do projeto “Aprova Recife”, baseado no “Aprova Brasil”, produzido em 2014, pela editora Moderna, e utilizado, desde 2017, nas escolas municipais da cidade. Essa pesquisa é pautada nos estudos de Ribeiro (2019), Almeida (2019), Hall (2000-2005), Silva (2001) e Bakhtin (1992). Como resultado da pesquisa, foi possível constatar que menos de 5% dos textos são de autores negros e as abordagens, em sua maioria, fortalecem o esteriótipo da marginalidade, exclusão, escravidão.

Palavras-chaves: Gênero textual, identidade, étnico-racial.


Palavras-chave


Gênero textual, identidade, étnico-racial.

Referências


ALMEIDA, Silvio. Racismo Estrutural. São Paulo: Sueli Carneiro – Pólen, 2019.

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 2. ed. Trad. Maria Ermantina Pereira. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

HALL, S. Quem precisa de identidade? In: SILVA, T. T. (Org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos Estudos Culturais. Rio de Janeiro: Vozes, 2000.

HALL, S. Raça, Cultura e Comunicações: olhando para trás e para frente dos Estudos Culturais. Helen Hugues (Trad.), Yara Khoury (Revisão Técnica). Revista Projeto História. n. 31, 2005.

RIBEIRO, Djamila. Lugar de Fala. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.

SILVA, Ana Célia Da. Desconstruindo a discriminação do negro no livro didático. Salvador: EDUFBA, 2001.