Portal de Conferências da Unicap, v. 2, n. XXIII, 2021: Semana de Estudos Linguísticos e Literários da Unicap

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POLÍTICAS LINGUÍSTICAS E OS MÉDIA DIGITAIS NA ESFERA DA LUSOFONIA
JOAO DA SILVA DE SOUSA

Última alteração: 2021-05-04

Resumo


RESUMO: Este trabalho tem por objetivo refletir sobre políticas linguísticas e os média digitais na esfera da lusofonia, para isso nos fundamentamos em Martins (2018, 2015, 2014) e Bastos (2015). Conforme Martins (2015), existe um processo que exprime a vida de comunidades imaginativas que impedem a Lusofonia de se fixar definitivamente. Metodologicamente, esta pesquisa é de caráter qualitativo, pois tem a intenção de refletir sobre questões realizadas por meio de levantamento bibliográfico em livros e periódicos. Consideramos que os média digitais interativos podem significar práticas sociais que remetem para a liberdade e a autonomia.

INTRODUÇÃO

A ideia de lusofonia não é consensual em Portugal como também não o é, nos demais países que falam a língua portuguesa. Pois circunda pela lusofonia a presença da identidade multicultural e heterogénea, que faz parte de cada comunidade do espaço lusófono. De acordo com Bastos (2015, p.266) a Lusofonia é:

Uma identidade cultural, partilhada por oito países (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné--Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste), conquistados pelo mesmo país expansionista que, num passado distante, agia de acordo com o clima de opinião do período: expandir terras para enriquecer e fortalecer o império. Unidos por um passado comum e por uma língua, os oito países enriqueceram a Língua Portuguesa, tornando--a diversa em cada um dos continentes: europeu, africano, americano e asiático. Dessa diversidade e do reconhecimento da língua como una, nasce a possibilidade de usarmos o conceito Lusofonia. (BASTOS, 2015, p.266)

Simplesmente imaginarmos que a língua é viva podemos dizer que a língua está sempre em mudança, devido ao seu uso constante. Diante disso, é pelo seu uso em vários contextos e em várias situações que a língua se abre à novas possibilidades, e essas mutações acontecem tanto no espaço quanto no tempo. Sendo assim, a língua além de viva ela evolui e se transforma. Para Martins (2015), na esfera da lusofonia como:

em fluxo, de luz, som e sensibilidade, a língua portuguesa é, com efeito, um objeto sem território específico, é um objeto em devir, sem centro, apenas com novas práticas de memória e sonho, por parte daqueles que a habitam, em Portugal, no Brasil, em Moçambique, ou em qualquer outro país de língua oficial portuguesa, e mesmo nos países da diáspora (MARTINS, 2015, p.36).

Conseguintemente, como objeto sem território específico a língua portuguesa no âmbito da lusofonia recebeu influências de um espaço que não possui barreiras físicas, onde ocorrem mudanças da cultura do uno para a cultura do múltiplo, pois de acordo com Martins (MARTINS, 2014, p.14) “a cultura do múltiplo e da mistura, associa-se à participação, à comunicação intercultural, à diferença, a uma cultura pós-colonial.”

Portanto, de acordo com Martins (2018), é preciso que se considere o papel do ciberespaço na invenção da identidade lusófona, levando em consideração os espaços de média digitais interativos “em todos os países do espaço lusófono, no contexto das suas estratégias identitárias, sejam elas locais, nacionais ou transnacionais.” (MARTINS, 2018, p. 15). Enfim, problematizamos que se a língua é viva e está em constante mudança, como a lusofonia recebe influência dos média digitais por meio das novas práticas de comunicação multi, transe intercultural no Ciberespaço?

1. Redes lusófonas

O termo lusófono na sua multiplicidade e diversidade territorial, cultural e artística não deixa de ser um espaço policentrado, hierarquizado, assimétrico e largamente desconhecido para os cidadãos dos próprios países que o compõem, isso porque a:

lusofonia pode ser encarada como uma circum-navegação tecnológica e intercultural, uma travessia, a ser realizada por todos os povos lusófonos, no sentido do interconhecimento, da cooperação, cultural, científica, social, política e económica, e também de afirmação da diversidade no mundo, enfim, uma circum-navegação que abra os confins do desenvolvimento humano (MARTINS, 2018 p. 89).

Contudo, como se isso já não fosse complexo no universo lusófono surge o cenário da globalização do conhecimento e da cultura digital do qual não podemos fugir, aqui evidenciamos a existência do debate acerca da comunicação multicultural, intercultural e transcultural. A comunicação multicultural postula diferenças de informação ou de conhecimento entre as várias culturas, que podem não se relacionar entre si. A comunicação intercultural procura interrelacionar a informação e o conhecimento dessas culturas diferentes e, por fim, a comunicação transcultural que diz que estamos a entrar num mundo para além da comunicação cultural tal como hoje a conhecemos, conforme Andrade (2017).

Conforme o exposto, o espaço lusófono constitui e contribui na construção da diversidade de uma grande comunidade de culturas que exige o exercício de um olhar reflexivo sobre os modos como ocorre a interação entre os povos deste espaço, assim como modos como se realiza a interação entre os cidadãos dos vários países lusófonos, para Martins isso ocorre porque:

se trata, em todos os casos, de territórios marcados pela heterogeneidade e pela diferença. Ao falarmos, todavia, do espaço lusófono, estamos a falar de comunidades que, oficialmente, se exprimem em língua portuguesa, uma língua que por ser de culturas, pensamento e conhecimento, também concorre para a construção de comunidades lusófonas, sejam elas culturais, artísticas ou científicas (MARTINS, 2018, p. 91).

Diante disso, para esse autor uma nova circum-navegação tecnológica em língua portuguesa adquiriu um propósito cooperativo, transnacional e transcultural, um objetivo em termos cientificos, pedagógicos, culturais e artísticos. Para Martins (2015) esse novo mundo digital e guiado pela inovação, pela hibridez e pela interatividade, onde a comunicação se dar pela mediação do computador e inovação de práticas que impõem uma intervenção tecnológica e que:

impõem uma alteração do sentido da leitura, assim como uma alteração do sentido do olhar. Hoje, ler o jornal, ver televisão ou ir às exposições de um museu, são exercícios de comunicação, que incluem, todos, práticas de navegação web, ou seja, práticas de comunicação, em condições específicas de tempo, espaço e interlocução: downloads, pirateados ou não, visualizações no YouTube, discussões nas redes sociais, expansão de artigos em posts de blogues, expansão de imagens em vídeos no YouTube (MARTINS, 2018, p. 92).

Contudo, essa evolução simultânea a essas práticas tecnológicas estão ligadas as novas práticas de comunicação nas mídias digitais.

2 Os media digitais interativos

Os médias digitais interativos deram espaço para hibridez de seres artificiais, mundos virtuais e experiências simulacrais. Nesse aspecto, faz-se necessário trazermos os conceitos de tradução intersemiótica e a estratégia transmedia storytelling:

Para Jakobson (1969) o conceito de intersemiótica ocorre quando se realiza uma tradução de um sistema de signos para outro, por exemplo, da arte verbal para a música, a dança, o cinema ou a pintura, em que o tradutor irá se ater ao ato da tradução “como recodificação, ou seja, não transportamos de uma língua para outra, e sim recodificam a mensagem que deverá ser transmitida” (AMORIM, 2013, p.17). O que vai determinar em sua maioria essa recodificação é “segundo o autor, pelo sistema gramatical da língua de chegada, e, no caso da tradução intersemiótica, do sistema de signos de chegada” (AMORIM, 2013, p.17)

Seguidamente, a estratégia transmedia storytelling, para Sánchez e Otero (2012), cria ramificações de uma história de maneira a atingir diferentes media, formatos e plataformas, existindo uma quebra das noções de linearidade espácio-temporal. A transmedia storytelling seria uma “estrutura narrativa particular que se expande ao longo de diferentes linguagens (verbal, icónica, etc.) e media (cinema, banda-desenhada, televisão, videojogos, etc.)”. (SCOLARI, 2009, p.587).

Para Davis (2013) a transmedia refere-se a um universo narrativo que decorre em múltiplas plataformas, nas quais cada um dos canais providencia uma contribuição distinta e valiosa para o total. É sobre essa hibridez e essa nova possibilidade de uso da língua que fala Martins (2015, p.31) em seu texto:

a língua é, em si mesma, um empreendimento virtual. Imponhamos-lhe agora uma intervenção tecnológica, ou seja, transportemo-la para o nível da comunicação digital interativa e das hipertextualidades multimodais de produção de sentido, tornadas possíveis pela tecnologia informática e multimédia (MARTINS, 2015, p. 31).

Diante disso, interatividade para Martins (2018, p.91) não deve se ser associado a interação, mas a “práticas sociais, que não remetem apenas para a liberdade e autonomia dos atores sociais; remetem, igualmente, para os constrangimentos da ação social, a qual ocorre, sempre, em condições específicas de tempo, espaço e interlocução” (MARTINS, 2018, p 91).

Essas irregularidades são realizadas por intermédio dos Média digitais interativos de programação e design que transforma a produção de imagens como práticas de simulacro ou seja uma simulação ou a representação simplificada de fenômenos ou processos mais complexo entre essa troca lúdica e a partilha diár


Palavras-chave


Lusofonia. Políticas linguísticas. Média digitais.

Referências


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