Última alteração: 2021-05-04
Resumo
No português brasileiro, temos a possibilidade de produzir construções em que um artigo definido antecede um antropônimo. A gramática tradicional da língua prescreve que, quando isso acontece, o determinante precisa compartilhar do mesmo gênero gramatical do núcleo nominal (ex.: O Pedro). No entanto, trabalhos como o realizado por Pereira (2020), atestam a existência de outra possibilidade de produção, uma em que o artigo não compartilha do mesmo gênero gramatical do antropônimo (ex.: A Pedro). Antunes (2007) afirma que o que encontramos nas gramáticas é uma idealização do português relacionada a como deveríamos utilizar a língua. Fora dessa idealização, no entanto, encontramos o que é real no português, ou seja, aquilo que é, de fato, produzido pelos falantes em diferentes situações de uso. Tomando como base teórica-metodológica o campo das Atitudes sociais (EAGLY; CHAIKEN, 1993), temos como objetivo precípuo levantar possíveis explicações sociais para a produção de formas linguísticas, como “a Pedro”. Após observações, verificamos que embora falar “a Pabllo” pareça uma simples menção àquele de quem se fala, na verdade, é a realização de uma ação no mundo. Ao falar “eu gosto da Pabllo Vittar”, o falante não simplesmente descreve seu gosto musical, mas reproduz ideias sobre gênero e sexualidade que, por meio da repetição ao longo do tempo, passa a ser algo característico que o define enquanto membro de um grupo social. Assim, o uso de construções linguísticas como “A Pabllo” é uma forma do falante realizar atos sociais concretos.