Portal de Conferências da Unicap, v. 2, n. XXIII, 2021: Semana de Estudos Linguísticos e Literários da Unicap

Tamanho da fonte: 
O mecanismo do bode expiatório como resolução dramática em Júlio César e Hamlet, de William Shakespeare
Emilly Silva Rodrigues

Última alteração: 2021-05-04

Resumo


Em Shakespeare: teatro da inveja, o teórico francês René Girard (2010) analisa os conflitos decorrentes do desejo mimético na obra do dramaturgo inglês. Verificou-se que, diferente das comédias, a rivalidade entre personagens na tragédia despertou a necessidade de um mecanismo análogo aos remédios purgativos utilizados em sociedades primitiva. O objetivo deste trabalho é apreender a relação entre o estabelecimento do bode expiatório e as resoluções dramáticas nas tragédias Júlio César e Hamlet. A metodologia utilizada é qualitativa e os procedimentos são bibliográficos. Além da leitura teórica sobre o desejo mimético nas obras Mentira romântica e verdade romanesca e A violência e o sagrado, trabalhos críticos sobre o teatro shakespeariano também foram utilizadas, como Sobre Shakespeare, de Northrop Frye (1992), Shakespeare: the invention of the human, de Harold Bloom (1998) e Preface to Shakespeare, de Samuel Johnson (2016). Além das considerações de René Girard (1990, p. 87) sobre a faceta violenta da tragédia, uma vez que “como qualquer saber sobre a violência, a tragédia liga-se à violência; ela é filha da crise sacrificial”, os comentários de Aristóteles (1997) em sua Poética e Northrop Frye (2013) na Anatomia da crítica também são ponderados. Os resultados obtidos revelam o mecanismo do desejo mimético nas duas peças, assim como o estabelecimento de vítimas expiatórias. A partir disto, é possível constatar que a resolução dos conflitos pelo bode expiatório aponta o lado sacrificial da catarse que opera a purgação e a purificação das violências, tal efeito só é possível a partir do  reconhecimento de que o poeta dramático canaliza os impulsos miméticos da plateia para sua peça.

 


Palavras-chave


Bode expiatório; William Shakespeare; tragédia.

Referências


ANSPACH, Mark. Édipo mimético. Tradução de Ana Lúcia Costa. São Paulo: É Realizações, 2012.

ARISTÓTELES. Poética. Tradução de Paulo Pinheiro. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2017.

ARISTÓTELES; HORÁCIO; LONGINO. A poética clássica. Tradução de Jaime Bruna. 7. ed. São Paulo: Cultrix, 1997.

BLOOM, Harold. A anatomia da Influência: Literatura como modo de vida. Tradução de Ivo Korytowski e Renata Telles. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.

______.Shakespeare. In:______. Abaixo as verdades sagradas: poesia e crença desde a Bíblia até nossos dias. Tradução de  Alípio Correa de Franca Neto e Heitor Ferreira Costa. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

______.Shakespeare, centro do cânone. In:______. O Cânone Ocidental: os livros e a escola do tempo. Tradução de Marcos Santarrita. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 1995.

______.Shakespeare: the invention of the human. New York: Riverhead Books, 1998.

CERVANTES, Miguel de. Dom Quixote. São Paulo: Penguin Companhia, 2012.

BRADLEY, A.C. Shakespearean Tragedy: lectures on Hamlet, Othello, King Lear, and Macbeth. 3. ed. New York: Macmillan Education, 1992.

FLAUBERT, Gustave. Madame Bovary. Tradução de Sérgio Duarte. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014.

FRYE, Northrop. Anatomia da crítica. Tradução de Marcus Martini. São Paulo: É Realizações, 2013.

______. Sobre Shakespeare. Tradução de Simone Lopes de Mello. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1992.

GIRARD, René. A violência e o sagrado. Tradução de Martha Conceição Gambini. São Paulo: Paz e Terra, 1990.

______. Mentira romântica e verdade romanesca. Tradução de Lilia Ledon da Silva. São Paulo: É Realizações, 2009.

______. Shakespeare: Teatro da inveja. Tradução de Pedro Sette-Câmara. São Paulo: É Realizações, 2010.

______. O Bode Expiatório. Tradução de Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus, 2004.

GOLSAN, Richard. Mito e Teoria Mimética: Introdução ao Pensamento Girardiano. Tradução de Hugo Langone. São Paulo: É Realizações, 2014.

JOHNSON, Samuel. Preface to Shakespeare. São Paulo: Livre, 2016.

KNIGHT, G. Wilson. The wheel of fire: interpretations of Shakespearian tragedies. London: Taylor & Frances e-library, 2005.

RIST, Thomas. Catharsis as “purgation” in Shakespeare’s drama. In: CRAIK, Katharine A.; POLLARD, Tanya (org.). Shakespearean Sensations: Experiencing Literature in Early Modern England. Cambridge: Cambridge University Press, 2013. p. 138 - 153.

SHAKESPEARE, William. Hamlet, príncipe da Dinamarca. Tradução de Carlos Alberto Nunes. São Paulo: Peixoto Neto, 2017.

______. Júlio César. Tradução de Carlos Alberto Nunes. São Paulo: Peixoto Neto, 2017.

______.Tróilo e Cressida. Tradução de Carlos Alberto Nunes. São Paulo: Peixoto Neto, 2017.

______. Grandes obras de Shakespeare: Tragédias. Tradução de Barbara Heliodora. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017. v. 1.

______. Grandes obras de Shakespeare: Peças Históricas. Tradução de Barbara Heliodora. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017. v. 2.

SUETÔNIO; PLUTARCO. Vidas de César. Tradução de Antonio da Silveira Mendonça e Ísis Borges da Fonseca. São Paulo: Estação Liberdade, 2007.