Última alteração: 2021-05-04
Resumo
Em Shakespeare: teatro da inveja, o teórico francês René Girard (2010) analisa os conflitos decorrentes do desejo mimético na obra do dramaturgo inglês. Verificou-se que, diferente das comédias, a rivalidade entre personagens na tragédia despertou a necessidade de um mecanismo análogo aos remédios purgativos utilizados em sociedades primitiva. O objetivo deste trabalho é apreender a relação entre o estabelecimento do bode expiatório e as resoluções dramáticas nas tragédias Júlio César e Hamlet. A metodologia utilizada é qualitativa e os procedimentos são bibliográficos. Além da leitura teórica sobre o desejo mimético nas obras Mentira romântica e verdade romanesca e A violência e o sagrado, trabalhos críticos sobre o teatro shakespeariano também foram utilizadas, como Sobre Shakespeare, de Northrop Frye (1992), Shakespeare: the invention of the human, de Harold Bloom (1998) e Preface to Shakespeare, de Samuel Johnson (2016). Além das considerações de René Girard (1990, p. 87) sobre a faceta violenta da tragédia, uma vez que “como qualquer saber sobre a violência, a tragédia liga-se à violência; ela é filha da crise sacrificial”, os comentários de Aristóteles (1997) em sua Poética e Northrop Frye (2013) na Anatomia da crítica também são ponderados. Os resultados obtidos revelam o mecanismo do desejo mimético nas duas peças, assim como o estabelecimento de vítimas expiatórias. A partir disto, é possível constatar que a resolução dos conflitos pelo bode expiatório aponta o lado sacrificial da catarse que opera a purgação e a purificação das violências, tal efeito só é possível a partir do reconhecimento de que o poeta dramático canaliza os impulsos miméticos da plateia para sua peça.
Palavras-chave
Referências
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