Portal de Conferências da Unicap, v. 2, n. XXIII, 2021: Semana de Estudos Linguísticos e Literários da Unicap

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Virginia Brindis de Salas, Carolina Maria de Jesus e Celeste Estrela: Gênero, raça e decolonialidade na escrita da mulher negra.
Gerardo Enrique De Ávila Gutiérrez

Última alteração: 2021-10-21

Resumo


Este artigo apresenta uma reflexão sobre a interseção entre gênero, raça e literatura desde uma perspectiva de estudos decoloniais, trazendo à ordem do dia a violência estrutural infringida pela colonialidade do poder em relação às mulheres negras no campo da escrita literária. Especificamente, propomos um estudo direcionando à escrita de mulheres negras que, embora de diversas formas foram/sejam marginalizadas e impedidas de crescer em tal campo, representa na insurgência na episteme da colonialidade do poder ao questionarem o pensamento misógino, racista e patriarcal. Para tanto, nosso objetivo é realizar uma análise comparativa entre o poema “Pregón de Marimorena” (1952), de Virginia Brindis de Salas, Quarto de despejo (1960), de Carolina Maria de Jesus, e Coroação Preta (2020), de Celeste Estrela, trazendo para nossa análise o conceito de escrevivências, desenvolvido por Conceição Evaristo (2009), e o de afro realismo, de Quince Duncan (2005). Nesse sentido, através de um corpus teórico pautado, sobretudo, em Aníbal Quijano (2000), Walter Mignolo (2005), Ochy Curiel (2007) e Catherine Walsh (2007), discutiremos o pensamento decolonial, reafirmando que o fim do período colonial e a constituição da modernidade se transformaram em colonialidade global. Demostraremos, desde autoras como Rita Segato (2012), María Lugones (2014), Zilá Bernd (1988) e Juliana Gonçalves (2017), a dupla negação do ser humano fêmea em um sistema social e político onde a raça e o gênero são pilares para se pensar a colonialidade/modernidade eurocêntrica, binária e patriarcal. Dessa forma, esperamos promover o uso/consumo de textos literários de mulheres negras na academia e na sociedade, pois eles reivindicam a alteridade, a visibilidade e o direito à fala, não como um acessório cultural, mas sim como uma afirmação da existência de Outras e Outros, assim como também combatem os efeitos e os processos de opressão, discriminação e marginalização da escrita da mulher negra.

 


Palavras-chave


decolonialidade; gênero; escrevivência

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