Última alteração: 2021-10-21
Resumo
Este estudo tem por objetivo analisar movimentos de luta antirracista na obra Um defeito de cor (2016), de Ana Maria Gonçalves. A obra é ambientada no século XIX, nos anos de 1800, período historicamente marcado pelas relações coloniais de poder e pela escravização de pessoas negras. A narrativa se concentra em apresentar a história de vida da personagem Kehinde, mulher negra, de origem africana, capturada ainda na infância e trazida para o Brasil para ser vendida como escrava. Ao longo de sua trajetória, Kehinde passa por diversas experiências e sofrimentos até conseguir sua liberdade. Uma delas é a do racismo. Kehinde sofre os efeitos da chamada colonialidade de gênero (LUGONES, 2014), por ser uma mulher negra e escravizada, e da colonialidade do poder (QUIJANO, 2005), que traz a importante reflexão sobre o racismo como uma maneira de legitimar as relações de dominação no encontro colonial, sendo, de fato, um princípio organizador ou lógica que estrutura diversas relações sociais (GROSFOGUEL, 2020). As diferenças fenotípicas denominadas pelos colonizadores de “cor” foram determinantes para a criação da hierarquia racial, e com isso, a ideia de racismo, que existe até os nossos dias. Dentro desse contexto, Kehinde desenvolve estratégias para sobreviver e superar as várias formas de violência que sofria, ressignificando-as, tendo a literatura por sua aliada. Propomos, assim, uma leitura a partir dos Estudos Culturais (Pós-coloniais), identificando movimentos de luta antirracista na obra que conduzem a uma leitura decolonial, de práticas de resistência e oposição ao “sistema mundo moderno/colonial” (BERNARDINO-COSTA; GROSFOGUEL, 2016). Trata-se de uma pesquisa bibliográfica na qual consideramos o contexto histórico e social que a obra se insere, bem como a construção simbólica da personagem-protagonista. Para tanto, contaremos ainda com as contribuições de Mignolo (2017), Ribeiro (2019) e Kilomba (2019). Em Um defeito de cor (2016), a voz subalternizada tem a oportunidade de expor suas dores, superar seus sofrimentos e reafirmar politicamente a sua resistência a partir da literatura.
Palavras-chave
Referências
BERNARDINO-COSTA, Joaze. GROSFOGUEL, Ramón. Decolonialidade e perspectivanegra. Revista Sociedade e Estado, vol 31, no.1, janeiro-abril, 2016.
GONÇALVES, Ana Maria. Um defeito de cor. Rio de Janeiro: Record, 2016.
GROSFOGUEL, Ramón. Para uma visão decolonial da crise civilizatória e dos paradigmasda esquerda ocidentalizada. In: BERNARDINO-COSTA, Joaze; MALDONADO-TORRES,Nelson; GROSFOGUEL, Ramón.(Org). Decolonialidade e pensamento afrodiaspórico. BeloHorizonte: Autêntica, 2020.
KILOMBA, Grada. Memórias da plantação. Episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Editora Cobogó, 2019.
LUGONES, María. Rumo a um feminismo descolonial. Estudos Feministas. Florianópolis,vol.22, n. 320, p.935-952, setembro/dezembro, 2014.
MIGNOLO, Walter.Desafios decoloniais hoje. Epistemologias do Sul. Foz do Iguaçu, vol 1,n.1, p. 12-32, 2017.
QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In:LANDER, E.(Org). A Colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais Perspectivas latino-americanas. Colección Sur Sur, Clacso, Ciudad Autónoma de Buenos Aires, Argentina, 2005.
RIBEIRO, Djamila. Pequeno manual antirracista. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.