Portal de Conferências da Unicap, IV Seminário Internacional Pós-Colonialismo, Pensamento Descolonial e Direitos Humanos na América Latina

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MULHERES INDÍGENAS COMO “OUTRAS DOS OUTROS”: intersecções entre colonialidade e perpetuação da violência de gênero no BrasiL
Ingrid Tereza de Moura Fontes, Clarissa Marques, Cristiane Gomes Julião

Última alteração: 2019-07-09

Resumo


O presente resumo propõe uma análise crítica aos escritos e registros realizados pelos viajantes e estudiosos durante o período colonial no Brasil, nos quais a figura da mulher indígena foi excluída ou completamente modificada, retratada com estereótipos relacionados à erotização do corpo feminino. Tal exclusão afastou narrativas sobre o papel feminino nas comunidades tradicionais brasileiras, seja em relação à participação em atividades de produção comunitária, seja quanto ao desenvolvimento de suas lideranças. Nesse sentido, a chamada "produção do saber" esteve sob domínio masculino desde a colonização; os primeiros estudos sobre povos indígenas foram realizados partindo de um olhar masculino, focado, em grande parte, na figura do homem indígena, a partir de sua força, liderança e a gestão do território como um todo. Ao relatarem as mulheres indígenas, estes diários masculinos construíam aos poucos o estereótipo erótico, reforçando a visão androcêntrica e patriarcal em desenvolvimento pelo colonialismo. O recorte aqui proposto parte da teoria do "pensamento abissal" desenvolvida por Boaventura de Sousa Santos e questiona a distância construída entre a representação indígena masculina e a feminina a partir dos escritos daqueles que em certa medida assumiram a missão de descrever o chamado "Novo Mundo". Santos defende que, no pensamento moderno ocidental, há uma divisão, por meio de linhas, separando dois universos distintos, “deste lado da linha” e “do outro lado da linha”. Esse pensamento é entendido pelo autor como abissal, vez que um universo não poderia coexistir com o outro, provocando um abismo entre "os dois mundos". Aquele que se localiza “deste lado da linha” é considerado relevante, ao passo que “do outro lado da linha” há invisibilidade. Posto assim, os povos indígenas, a partir da exploração colonial, passaram a viver “do outro lado da linha”, no espaço "reservado" aos inferiores. Por outro lado, ao se analisar o destaque dado à mulher indígena ao longo do tempo, faz-se necessário acrescentar "uma outra linha", que cortaria o agrupamento já localizado como "do outro lado". É como se, além de fazerem parte desse universo "outro", as mulheres indígenas tivessem sido apresentadas pelas narrativas históricas ocidentais como "outras dos outros", ou seja, um subgrupo subalternizado dentro daqueles já subalternizados em razão do “encobrimento”. Nesse aspecto, utilizando-se de um aporte decolonial, bem como de um método indutivo e um tipo de pesquisa bibliográfico, descritivo-explicativo e documental, objetiva-se, com a pesquisa, analisar o espaço concedido às mulheres indígenas numa perspectiva do saber que, se por um lado pretende ser universal, por outro lado marcou e marca essas mulheres com o silêncio; para tanto, utiliza-se como fundamentação teórica autores como Boaventura de Sousa Santos e Enrique Dussel.

Palavras-chave


descolonial