Portal de Conferências da Unicap, IV Seminário Internacional Pós-Colonialismo, Pensamento Descolonial e Direitos Humanos na América Latina

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Colonialismo de dados: como elementos afroperspectivistas podem contribuir na resistência ao capitalismo de vigilância
Luiz Carlos Pinto da Costa Júnior

Última alteração: 2019-07-09

Resumo


O presente artigo reflete o atual estágio de uma pesquisa em andamento. Nesse esforço, procura-se, a partir do repertório da filosofia afroperspectivista, desenvolver elementos de uma pedagogia popular de subversão de objetos técnicos. A questão central que move esse texto é: a partir do repertório fornecido pela filosofia afroperspectivista, quais saberes e práticas podem conduzir processos de subversão da ambiência logo-técnica que produz vigilância e limita a privacidade de populações marginalizadas em territórios multiétnicos? A rigor, trata-se de propor referências para pedagogias da experiência que são tensionadas por processos de exclusão urbana e por políticas higienistas – que exigem um reenquadramento do olhar de prospecção e de pesquisa. No modelo de acumulação que Soshana (2019, p. 26) define como capitalismo de vigilância, procura-se “prever e modificar o comportamento humano como meio de produzir receitas e controle de mercado”. Inicialmente demandadas por questões de segurança, em especial depois do ataque às Torres Gêmeas, em 2011, as ferramentas de vigilância passaram a articular o controle securitário e a produção de riqueza por intermédio da extração e análise de dados de populações inteiras. Essa articulação tem impactos severos sobre populações já marginalizadas – o caso de quilombos urbanos e favelas; povos ameríndios em territórios em litígio; líderes comunitários; comunicadores periféricos. Para Nick Couldry (2019), da London School of Economics and Political Science, esse processo transborda a noção de uma nova fase de acumulação e se projeta no sentido de uma nova fase da história. Essa etapa seria caracterizada pelo colonialismo de dados, cuja extração de riqueza está concentrada nas pessoas e em suas relações. A ampla literatura sobre esse contexto é basicamente vinculada à racionalidade dominante, eminentemente ocidental – é nesse sentido que as análises, em geral, procuram soluções universais e universalizantes. Mas os diversos contextos e experiências, os diferentes corpos e crenças, assim como os variados problemas impostos pela economia de vigilância em territórios tão específicos quanto particulares não são, em geral, interrogados sobre suas próprias formas de enfrentamento dessas novas formas de dominação. Assim, o artigo procura situar e discutir uma pedagogia de insubordinação tecnológica animada por elementos de matriz ameríndia e afrodescendente que ofereça recursos conceituais para preservação da privacidade e liberdade de expressão. Esse esforço tem sido empreendido por análises de experiências locais (netnografia e etnografia em laboratórios populares de inovação) e pelo resgate de elementos da filosofia afroperspectivista.

Referências Bibliográficas CESARINO, Letícia. Estudos pós-coloniais da ciência e tecnologia: desafios e possibilidades. V Reunião de Antropologia da Ciência e Tecnologia, (2015). ST7: Pretensões disciplinares e desafios. COLDRY, Nick; MEJIAS, Ulisses. The Costs of Connection: How Data Colonizes Human Life and Appropriates if for capitalism. Stanford University Press, 2019. NASCIMENTO, Elisa Larin. Afrocentricidade – uma abordagem epistemológica inovadora. São Paulo, Selo Negro, 2019. NOGUEIRA, Renato. Denegrindo a filosofia: o pensamento como coreografia de conceitos afroperspectivistas. Griot. Revista de Filosofia, Amargosa, BA, v.4, n.2, Dezembro/ 2011, pp. 1-19. SOSHANA, Zuboff. Big Other: capitalismo de vigilância e perspectivas para uma civilização informacional. In.: BRUNO, Fernanda et al. Tecnopolíticas da vigilância – perspectivas da margem. São Paulo, 2019.


Palavras-chave


Afroperspectiva. Tecnologia. Colonialismo. Dados. Subversão