Portal de Conferências da Unicap, IV Seminário Internacional Pós-Colonialismo, Pensamento Descolonial e Direitos Humanos na América Latina

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SOCIOPOÉTICA E PENSAMENTO DESCOLONIAL: UMA ABORDAGEM DE PESQUISA EM DEFESA DA DESCOLONIZAÇÃO DE SABERES
Monaliza Santos

Última alteração: 2019-07-10

Resumo


O artigo visa apresentar a abordagem de pesquisa Sociopoética, esta pautada no pensamento descolonial, uma vez que reflete uma epistemologia transcultural em prol da dignidade humana de modo geral e em especial, daqueles silenciados historicamente em âmbito social e particularmente em pesquisas científicas. De modo que advoga a importância de valorizar as culturas de resistência que foram retraídas tanto pelos processos de colonização como pelo capitalismo. Porque a Sociopoética, contrária a um pensamento hegemônico da ciência eurodescendente, acredita na pluralidade de conhecimentos em meio à diversidade cultural e étnico-racial, e por isso é incapaz de defender que conhecimentos de pesquisadores acadêmicos são superiores aos dos povos tradicionais e grupos populares. Como afirma Boaventura de Souza Santos (2009), o colonialismo foi também uma dominação epistemológica que conduziu à supressão de muitas formas de saber próprias de nações e povos colonizados. Não obstante, ressaltamos que a luta pela descolonização de saberes não é sinônimo de desprezo pelas conquistas da cultura europeia, colonizadora sim, mas que não deve ser reduzida ao seu aspecto econômico e político (GAUTHIER, 2012). Compreendemos a pertinência de realizarmos um breve estudo analítico no que diz respeito ao método em questão. Nesse sentido, a abordagem metodológica intitulada Sociopoética foi criada por Jacques Gauthier (2012) na década de 90, a partir da aprendizagem intercultural que fez na Nova-Caledônia juntamente ao povo Kanak contra o colonialismo francês. Com o intuito de considerar aquilo que foi historicamente ultrajado, o método, segundo Silveira et al. (2008) surge desde uma combinação da Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire, da Análise Institucional de René Lourau e George Lapassade e da Esquizoanálise de Gilles Deleuze e Félix Guattari, devido ao descontentamento para com as abordagens de pesquisa que geralmente utilizam unicamente entrevistas para obter dados acabando por se deter à linguagem verbal e consequentemente obstruindo o acesso a saberes camuflados numa linguagem corpórea, por exemplo. Nessa direção, a abordagem Sociopoética contempla a noção de inconsciente para acessar esta linguagem através de técnicas artísticas. Os seus princípios são: a instituição de um grupo-pesquisador; a valorização das culturas dominadas e de resistência; a consideração do corpo por inteiro (emoção, imaginação, razão, etc.); formas artísticas para produção de dados; responsabilidade espiritual, ética, noética e política (GAUTHIER et al., 2001). Ao reconhecer o corpo inteiro capaz de produzir conhecimento, a Sociopoética é oposta a qualquer forma de subjugação e opressão de sujeitos, por meio de uma ótica descolonial em prol da produção coletiva de conhecimento valorizando a confluência da arte, ciência e espiritualidade (GAUTHIER, 2012). Em suma, concluímos que a abordagem Sociopoética, nas ciências humanas e sociais, se configura como um potencial descolonizador no âmbito das pesquisas acadêmicas, no intuito de possibilitar a integração do olhar do não acadêmico na elaboração científica como necessidade crítica em relação aos seus próprios saberes, com o propósito de fazer ouvir as vozes deslegitimadas pelos processos de colonização que marginalizaram culturas não eurocêntricas.