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Ficção e descolonização em kamel Daoud: a reescrita de Camus e reinvenção da memória argelina.
Última alteração: 2019-07-10
Resumo
O trabalho discute a empresa decolonial presente na ficção de Kamel Daoud, escritor argelino da francofonia periférica contemporânea, particularmente em seu romance mais significativo: “O caso Meursault” (2013). Na obra, o autor revisita o clássico “O estrangeiro” (1942), de Albert Camus, propondo recontar a história do assassinato do “árabe”, a partir de um outro lugar até então ocultado: o lugar da família argelina, agora, dotada de nome e sobrenome, reapresentada com memória afetiva e marcada pelas relações de violência implicadas pela colonização francesa. Haroum, narrador do romance, conta a história de Moussa, seu irmão assassinado pelo protagonista camusiano Meursault, de modo que o texto ficcional abre campo para uma reflexão sobre a descolonização no imaginário literário argelino. A conclusão desenvolvida a partir das análises das obras dos dois autores, as quais dialogam com o pensamento decolonial de Mignolo (2008), Quijano (2005), Castro-Gomez (2005), Roland Walter (2015), Yasbek (2010) e Edward Said (1993), aponta para uma reconfiguração da memória da Argélia e de sua relação com a França a partir de uma produção literária que deseja problematizar os efeitos da colonização.