Portal de Conferências da Unicap, IV Seminário Internacional Pós-Colonialismo, Pensamento Descolonial e Direitos Humanos na América Latina

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DESLOCANDO IDENTIDADES: UMA ÉTICA DA HOSPITALIDADE EM VISTA DE UM DEBATE DECOLONIAL
Manoel Uchôa de Oliveira, Renan Francelino da Silva

Última alteração: 2019-07-13

Resumo


Uma ética da hospitalidade pode ser um caminho para a descolonialidade. A categoria do debate cultural é a identidade. Ao mesmo tempo, é sua armadilha. Os processos de afirmação de uma cultura passam por projetar sua identidade com pressuposição. Há um “eu posso” originário na formação do sujeito identitário. Em virtude de uma identidade transparente para ipseidade, os debates entre o monoculturalismo, assumem uma narrativa em que a exclusão é a inclusão do outro. Por um lado, a unificação dos sujeitos sob uma mesma cultura parece compor muito do cosmopolitanismo moderno. Nesse caso, a assimilação emerge como o processo de manutentação de um eu em sua soberania. Por outro, a multiculturalidade pode ser uma saída em que monadas identitárias se excluem mutuamente. Haveria uma inclusão segmentada por uma estratégia de controle globalizada, como destaca Michael Hardt. Se antes o racismo tinha fundamento biológico, agora uma posição essencialista na cultura opera o processo de uma exclusão inclusiva. Por isso, dentro ou fora, há o esquecimento ou desaparecimento da alteridade. Para enfrentar esse desejo colonial em vista do lugar do Outro, como ensina Homi Bhabha, a compreesão da hospilidade descortina uma análise dessa relação fronteiriça com a alteridade. O acolhimento de outrem não é o fim de um processo, mas o inicio de sua apresentação. Assim, Jacques Derrida propõe uma ética para além de uma intersubjetividade em que a ipseidade do sujeito seja o mediador. Revela-se o incomensurável da comunicação com outrem. A troca ou tradução entre os gestos, as línguas e as culturas não pode ser reduida a um conjunto de regras, ainda que consensuais. Desse modo, ao desenvolver o presente estudo, procura-se compreender a experiência da hospitalidade a partir da lição desconstrutivista de Derrida. Abordar-se-á a linguagem como principal aporia ao acolhimento do Outro, na medida em indica hospitalidade incondicional. Isto é, define- se pelo acolhimento sem reservas do outro que chega enquanto a lei geral da hospitalidade. Todavia, esse acolhimento incomensurável está aberto a hospitalidade tanto quanto a hostilidade. Por isso, as leis específicas da hospitalidade recaem ainda sobre questões como Estado, cidadania, direitos. No crescimento exponencial das situações de exílio, apátridas e imigrantes, a compreensão de uma ética da hospitalidade passa a ser um problema filosófico relevante. O estudo do conceito, na metodologia filosófica, passa por definir seu campo semântico, mas também remeter a imanência em que as questões se desenvolvem. Nesse sentido, a colonização do outro pode ser contestada na medida em que a hospitalidade faz compreender que a unidade da língua e da cultural não é calculável.