Portal de Conferências da Unicap, IV Seminário Internacional Pós-Colonialismo, Pensamento Descolonial e Direitos Humanos na América Latina

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Corporeidade como valor civilizatório afro-brasileiro: por uma educação decolonial
DEborah Monteiro

Última alteração: 2019-07-10

Resumo


A consciência integral de si e dos outros tem sido perseguida por pesquisadores do mundo todo, preocupados com os efeitos da radicalização da filosofia cartesiana na contemporaneidade, inclusive na organização dos sistemas educacionais e de seus currículos. O Brasil não está distante desse fenômeno, basta olharmos para a História do país para percebermos que nossa educação formal nasce de objetivos colonizadores que silenciam a corporeidade como produtora de conhecimento. Este silenciamento constitui uma verdadeira opressão aos grupos culturais não- brancos, considerados incivilizados e intelectualmente inferiores. O investimento no apagamento dos saberes desses povos enquadra-se na colonialidade do saber (Walsh, 2012). Por outro lado, um olhar mais amplo e sensível é capaz de observar que, nas vivências coletivas populares negras não-escolarizadas que sobreviveram à colonização, a corporeidade é base incontestável do fazer educativo e vem acompanhada de outros valores civilizatórios afro-brasileiros, estudados por Azolilda Trindade e Kiusam de Oliveira, entre outros. Esiaba Irobi (2013) defende que é preciso compreender a concepção de fenomenologia mediante a perspectiva africana e afro-diaspórica, que perpassa o ponto de vista de Hegel, Husserl, Sartre ou Maurice Merleau-Ponty , para ele, a compreensão do sensível que apresentam esses autores pode ser observada já nas filosofias africanas anteriores a eles. Com base nesses autores africanos e afro-diaspóricos, entendemos, portanto, que o conhecimento e análise das formas de ensino-aprendizagem dos contextos negros de educação não-formal – como das rodas de capoeira, dos terreiros e do hip-hop – pode fornecer subsídios para a descolonização do currículo escolar, tanto no que tange à perspectiva da Educação Integral, como da inclusão efetiva de saberes afro-brasileiros nesses currículos. Tais propostas são convergentes, pois ambas as perspectivas trazem a corporeidade como valor central e podem colaborar para a construção de uma educação decolonial, uma vez que desafiam a colonialidade do saber. Nesse sentido, o artigo que aqui propomos tem o objetivo de refletir sobre a Educação brasileira investigando como a perspectiva colonial que rege nossa educação afeta a corporeidade, assim como pensar em possibilidades de transformação desse quadro a partir de um currículo que contemple valores civilizatórios afro-brasileiros.


Palavras-chave


Valores afro-brasileiros; educação integral; educação para relações étnico-raciais