Portal de Conferências da Unicap, IV Seminário Internacional Pós-Colonialismo, Pensamento Descolonial e Direitos Humanos na América Latina

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A COLONIALIDADE DO CONHECIMENTO E OS GENOCÍDIOS EPISTÊMICOS: O PROCESSO DE LEGITIMAÇÃO DA RACIONALIDADE EUROCÊNTRICA
Vitoria Agnoletto, Anna Paula Bagetti Zeifert

Última alteração: 2019-08-08

Resumo


 

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O colonialismo atua como estrutura de poder que forma novas relações sociais a partir de classificações étnico-raciais, como é o caso da realidade histórica da América Latina durante o período colonial. Por outro lado, a colonialidade surge conforme se formam as estruturas coloniais de poder, mas vai além na medida que se internaliza nas subjetividades e relações sociais, se perpetuando e reproduzindo nas dimensões do poder, do saber e do ser. Mignolo (2008) demonstra que, entre as várias formas de poder da colonialidade, o conhecimento é um instrumento de poder.

No que diz respeito a relação da colonialidade e do conhecimento, Boaventura de Sousa Santos (2013) demonstra que o processo da modernidade desenvolveu uma linha que dividiu o mundo em dois. Um dos lados corresponde ao contexto e núcleo europeu e norte-ocidental, que adquire hegemonia e controle dos diversos âmbitos da vida, seja na economia, na política, na cultura ou socialmente, esse lado é tido como desenvolvido, civilizado e racional. Enquanto isso, o outro lado é constituído pelas demais sociedades,

culturas, povos e grupos que não se encaixam nos padrões eurocêntricos, seja por questões religiosas, culturais ou étnico-raciais. Consequentemente, é o lado marginalizado, cujos adjetivos são praticamente inexistentes, é caracterizado como o primitivo, subdesenvolvido, bárbaro e, seguindo a mesma lógica, violento e desordenado. O conhecimento, da mesma maneira, é dividido através dessa linha, de modo que o verdadeiro conhecimento, o racional e o cientifico só pode ser encontrado no mundo europeu/norte-ocidental, enquanto as demais formas de conhecimento são tidos como meras opiniões ou saberes irracionais, sustentados por crenças e pelo senso comum.

Nesse contexto, o presente estudo tem como objetivo analisar o processo de construção de um tipo hegemônico de conhecimento, isto é, o processo de legitimação do conhecimento ocidental e europeu como a forma superior de saberes. Para a construção da pesquisa utiliza-se como método de abordagem o hipotético dedutivo, sendo a pesquisa do tipo exploratória, utilizando uma base teórica presente na filosofia política contemporânea e nas discussões e reflexões do pós-colonialismo e do pensamento decolonial.

Nesse sentido, o pensamento decolonial é fundamental para argumentar que “oprivilégio epistêmico do homem ocidental foi construído às custas dogenocídio/epistemicídios dos sujeitos coloniais” (GROSFGUEL, 2016, p. 25). Os saberesocidentais e europeus se constituíram como a forma central de conhecimento por diversas razões, isto é, por diversas faces da colonialidade, mas tal realização só foi possível através da desqualificação de outros conhecimentos, para isso foram necessários os quatro genocídios do século XVI, que constituem-se na destruição de conhecimentos e de seres humanos. Santos (2009) e Grosfoguel (2016) indicam a conquista de Al-Andalus, como o genocídio epistêmico contra os muçulmanos e os judeus, a conquista das Américas e a conquista de Al-Andalus como os genocídios epistêmicos contra povos indígenas, marranos e africanos, e a conquista da mulher indo-europeia como o genocídio epistêmicocontra a mulher, responsáveis por criar o “poder racial e patriarcal e as estruturasepistêmicas em escala mundial emaranhadas com o processo da acumulação globalcapitalista” (GROSFOGUEL, 2016, p. 42).