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Ocupação como ferramenta de resistência urbana: MTST, mulheres negras e colonialidade
Última alteração: 2019-07-10
Resumo
Esse resumo faz parte da minha tese de doutorado em Estudios Socioculturales (UABC, México) que está em construção. A Constituição Federal Brasileira de 1988 garante que toda brasileira e todo brasileiro tenha direito à moradia decente. O MTST foi fundado nos anos 90, após a ditadura militar com a intenção de lutar por moradia de qualidade e condições dignas devida. É um movimento urbano, coletivo, autônomo e que luta pela reforma urbana popular e é formado por trabalhadoras e trabalhadores nas localidades periféricas das cidades(Boulos, 2012). A busca não fica em moradias dignas,estende-se pelos direitos básicos: educação, cultura, igualdade, lazer,saúde o direito à cidade. A Reivindicação do MTST é que a lógica das grandes cidades não garante o direito de propriedade das famílias que não podem pagar; lógica que mantém a perspectiva colonial. A valorização dos grandes centros urbanos exclui a maioria dos cidadãos trabalhadores(Rodrigues, 2012). Na análise de alguns trabalhos de pesquisa (Cloux, 2008, Macedo Filho, 2010, Souza, 2011),constatamos que a maior parte da base do MTST é composta por mulheres negras. É relevante notar que as mulheres negras critica mas raízes históricas do colonialismo, do racismo e da misoginia no Brasil,no entanto,não são legitimadas e nem mesmo mencionadas na história oficial(González, 1983).Com base nas hipóteses de OyèrónkẹOyěwùmí (feminista nigeriana) e Paul Allen Gunn (feminista indígena dos EUA), a teórica decolonial María Lugones(2008) sugere que o gênero é uma produção colonial, tanto a ideia de raça quanto a de gênero foram produzidas ao mesmo tempo que o processo de invasão e colonização. O gênero produz relações de poder na sua base;a produção colonial foi capaz de destruir povos e visões de mundo que não estavam com a perspectiva europeia, portanto, as categorias de raça e gênero são constitutivas na visão da atualidade neocolonial, de tal forma, não se pode pensar de maneira separada as duas categorias. Ocupar um espaço ocioso em áreas urbanas é uma resistência política, dado que constantemente o direito à cidade é violado,o mercado imobiliário é exclusivo e não há políticas públicas adequadas para mulheres negras (Maricato, 2009).As mulheres negras do MTST de Recife lutam pela moradia digna e o direito à cidade e as suas histórias de vida são atravessadas pelas estruturas coloniais.Essa pesquisa é de caráter etnográfico e conta com a colaboração de mulheres negras do MTST de Recife (PE, Brasil).Compreendendo que existe o exercício de poder simbólico nas relações, e que não se supera com a participação das mulheres negras no MTST,o ponto central dessa pesquisar é compreender como o exercício colonial de raça e de gênero determinam o lugar dessas mulheres negras, ou seja, condicionam suas histórias de vida.