Última alteração: 2019-07-10
Resumo
A observação das produções culturais do Sul evidencia que pensar as manifestações queer através de representações históricas que nos liguem à liberação sexual dos países centrais, que estabeleçam uma genealogia a partir de Stonewall, ou mesmo do mundo grego antigo, é deixar de lado particularidades explícitas para construir uma identidade fictícia, ideologicamente constituída. Por isso, apostar na possibilidade de uma teoria que era partir do sul, não traduzida para o sul, mas emersa a partir do sul, através das inúmeras produções culturais que colocam em xeque as normas de gênero, sexualidade, classe, localização, religião, fronteiras, contribuem para a construção de novas epistemologias advindas de outros lugares de enunciação e, sobretudo, de outros sujeitos de enunciação, de maneira a promover uma espécie de “giro de colonial” da teoria queer. O queer/cuír pode ser outra via crítica que utilizando da poderosa metáfora da antropofagia e do canibalismo marca a cultura não pela separação das partes indesejadas, como talvez quisesse a antropofagia oswaldiana, mas atuando na contaminação das partes desejadas. O queer/cuír das Américas, ligado aos afetos, à corporalidade e à abjeção pode empreender, como demonstram os produtos culturais a serem apresentados nesse trabalho, um processo de colonial que aponta essa presentificação do outro e o reconhecimento deque seu posicionamento tem-se dado não só por meio da apropriação, mas pela produção de novos e de outros caminhos em que os saberes tradicionais, experiências de opressão e de transgressão podem ser potentes instauradores de outra economia política de conhecimento. Nessa leitura procura-se mostrar a relação entre a politização do corpo pela continuidade à discussão sobre antropofagia e abjeção, através de diferentes textualidades, para entendermos melhor a produção de subjetividades e epistemes cuír nas Américas apresentadas em diferentes experiências políticas com o Estado e dos processos de constituição da abjeção, da Loca(para Lemebel),localizada para fora das margens da sanidade, do discurso hegemônico e das normatividades.