Portal de Conferências da Unicap, IV Seminário Internacional Pós-Colonialismo, Pensamento Descolonial e Direitos Humanos na América Latina

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O MARXISMO NOS FLUXOS DA DIÁPORA NEGRA: CONTRIBUIÇÕES DA INTELECTUALIDADE NEGRA MARXISTA PARA A PRÁXIS DESCOLONIAL
Daniel Vitor de Castro

Última alteração: 2019-07-10

Resumo


Nas correntes marítimas do Atlântico, a bússola marxista sempre pulsou mais viva, crítica e heterodoxa, promovendo sínteses com a intelectualidade e cultura política afro-diaspóricas. Chamamos de diáspora negra o deslocamento forçado de populações africanas que promoveu rompimentos com as noções de lugar, tempo e pertencimento e rearticulações culturais e identitárias a partir dos novos contextos de existência e experiências coletivas. Contra os purismos da identidade e as raízes do Estado-nação, as rotas da diáspora africana possibilitam-nos complexificar nossas noções de identidade, raça, cultura e nação a partir de uma perspectiva intercultural e transnacional. O movimento da diáspora criou uma rede sem limites territoriais de compartilhamento de memórias, de trocas e transformações culturais. A diáspora negra produz, pois, sua própria intelectualidade orgânica, parte desta intimamente ligada à cultura política marxista. Neste trabalho promovemos o diálogo entre alguns destes intelectuais como: CLR James, jornalista de Trinidad e Tobago, membro fundador da IV Internacional, escreveu sobre a Revolução Haitiana e mobilizou a “questão negra” norteamericana, em seu tempo de militância no SWP, formulando sobre o nacionalismo negro e a auto-organização dos negros; Frantz Fanon, psiquiatra e filósofo martinicano, membro da Frente de Libertação Nacional da Argélia, entrecruzou a experiência ontológica do negro na sociedade colonial com os processos radicais de lutas de libertação nacional; Clóvis Moura, jornalista brasileiro, colocou o protagonismo da práxis negra na leitura da história do Brasil e propôs a existência de um modo de produção escravista responsável pela modernização conservadora para um capitalismo dependente estruturado pelo racismo; e Angela Davis, socióloga estadunidense, demostrou as particularidades da opressão de gênero das mulheres negras e sua relação com capitalismo e racismo. Esta intelectualidade negra revolucionária, em fluxo e movimento transcontinental, sempre formulou sobre as relações entre imperialismo, capitalismo, colonialismo, patriarcado e racismo, e construiu um projeto descolonial a partir da memória de resistências e insurgências de sujeitos que polarizaram a casa-grande com o quilombo, ecoaram a vontade de libertação pelas correntes marítimas e incendiaram as plantations com fogo revolucionário. Este diálogo entre marxistas negros que percorreram o Atlântico se faz necessário para percebermos como o marxismo foi reinterpretado e reutilizado nos fluxos da diáspora, formulando novas questões e fundamentando resistências à colonialidade do poder. Dialeticamente, nos traz que o pensamento e luta negra possuem raízes sólidas no marxismo revolucionário percebendo como o racismo se articula estruturalmente com o capitalismo, não sendo apenas uma instituição arcaica, mas fundante da própria lógica globalizante do capital. Logo, nos colocam a tarefa de descolonizar nossas formulações para a práxis revolucionária e colocar a revolução e libertação negra no horizonte do nosso pensamento descolonial.