Portal de Conferências da Unicap, IV Seminário Internacional Pós-Colonialismo, Pensamento Descolonial e Direitos Humanos na América Latina

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Banco Mundial, gênero e colonialidade - aportes desde a América Latina
Danieli Aparecida dos Santos

Última alteração: 2019-07-10

Resumo


Discussões acerca do papel das mulheres nas políticas desenvolvimentistas têm marcado o cenário internacional a partir da década de 1950. Instituições financeiras como o Banco Mundial (BM) vem   elaborando conceitos e ferramentas analíticas acerca da condição socioeconômica asmulheresesobre como as disparidades de gênero se articulam ao desenvolvimento econômico.Fundado Em 1944 Como mandato de fornecer suporte financeiro para a reconstrução de países no pós-guerra, o BM tem se consolidado como ator político, intelectual e financeiro, que associa a concessão de empréstimos ao         apoio técnico para elaboração de políticas públicas, desenvolve uma vasta produção intelectual exerce liderança na organização de políticas desenvolvimentistas, sobretudo endereçadas aos países ditos subdesenvolvidos (PEREIRA, 2018; SILVA, 2018). Em 2012, seu relatório de maior peso,o Relatório de Desenvolvimento Mundial (RDM) intitulado “Igualdade de gênero e desenvolvimento” (WORLD BANK, 2012) compilou vinte anos de pesquisas e recomendações da agência e abordou os avanços e desafios da desigualdade de gênero em diferentes aspectos da vida social (SILVA, 2018). Embora o BM trate de questões referentes às mulheres desde a década de 70, foram poucos os estudos interessados em abordar as relações de gênero na perspectiva do BM(SILVA,2018,ZABALA,2005).

No que se refere à América Latina e Caribe (ALC), não foram encontradas pesquisas que discutiam à vasta produção de documentos e proposições de gênero do Banco para a região. Dessa forma, o presente estudo se voltou a identificar as proposições do BM acerca da temática de gênero para a região    da ALC, buscando caracterizar os conceitos que orientam tais proposições, explicitar suas premissas teóricas e descrever as articulações com a agenda política mais ampla do BM. Compreendendo que para abordar gênero, enquanto categoria oriunda das ciências sociais com seu caráter complexo e multifacetado, se requer um esforço interdisciplinar (VILLELA ​et al, 2009), tal pesquisa situa-se no entrecruzamento de campos como os estudos feministas, saúde coletiva e estudos decoloniais. Orienta-se pela perspectiva do feminismo decolonial, buscando, como assinala Ochy Curiel (2013,     2014) fazer uma antropologia da dominação, da hegemonia, de modo a desvelar as estratégias e discursos do BM que definem grupos de mulheres e LGBTQIs dos países latino-americanos como   “outros” e “outras”. Tal estudo se encontra em andamento e está vinculado ao Mestrado Profissional em Educação Profissional em Saúde, da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (FIOCRUZ, Rio de Janeiro).Os resultados, ainda provisórios, apontam que o interesse do BM, inicialmente sobre as mulheres e posteriormente sobre gênero, considerou as mulheres tanto como “alvos” das políticas desenvolvimentistas, quanto como “aliadas” do desenvolvimento e “responsáveis” pelos baixos resultados econômicos.​A desigualdade de gênero, segundo o BM, tem um custo alto. Salienta- seque, ao abordar gênero de forma desassociada às categorias de classe e raça/etnia, o BM esteriliza tal conceito, suprimindo sua dimensão crítica e reduz a discussão das desigualdades sociais aos aspectos culturais.