Portal de Conferências da Unicap, IV Seminário Internacional Pós-Colonialismo, Pensamento Descolonial e Direitos Humanos na América Latina

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OS DESAFIOS DO CINEMA BRASILEIRO COMO PROMOTOR DOS DIREITOS HUMANOS
Thiago Barbosa Lacerda

Última alteração: 2019-07-08

Resumo


Historicamente, as produções culturais sempre foram um importante veículo de transmissão de novas formas de pensar, influenciando comportamentos e contribuindo para mudanças profundas em diversas sociedades. Lynn Hunt, em seu livro A invenção dos Direitos Humanos, apresenta um panorama de como a literatura, por exemplo, contribuiu para a mudança do
pensamento francês em meados do século XVIII, culminando com a Revolução Francesa. A arte em geral carrega consigo o embrião da mudança, já que estimula o pensamento, a reflexão e a crítica. Não é à toa que tornou-se comum o ataque à cultura por parte de governos autoritários, sendo uma
característica quase onipresente em regimes antidemocráticos. No mundo contemporâneo, o audiovisual, em especial o cinema, desponta como uma das expressões culturais mais influenciadoras e de alcance mais abrangente. Nesse sentido, a sétima arte funciona ao mesmo tempo como um poderoso veículo de promoção do pensamento crítico, mas também como forma de propagar o pensamento colonialista, reproduzindo a visão de mundo (em grande parte) norte americana. Nesse cenário, o cinema brasileiro destaca-se como verdadeiro celeiro de produções cinematográficas originais, com temáticas pautadas pela diversidade e fortemente ligadas à
realidade local. Entretanto, essa característica da cinematografia nacional traz consigo, de forma prática, o paradoxo da cultura na promoção dos Direitos Humanos na contemporaneidade.
Justamente pelo fato de ser um produto cultural diferenciado do grande mercado de blockbusters, encontra dificuldades para exibição nas salas de cinema comerciais, limitando seu alcance e, consequentemente, seu potencial transformador. Ao mesmo tempo, por serem produções extremamente críticas à realidade social, despertam por vezes uma resistência por parte
governamental, de quem poderia obter incentivos a sua divulgação, pois não há público, por vezes, pela dificuldade de acesso. Assim, não é exagero afirmar que o monopólio comercial dos filmes norte americanos pode ser uma violação do direito à cultura. Metodologia: Para estudar esse papel do cinema nacional na atualidade, seus desafios e possibilidades, foi feito estudo de caso a partir das repercussões de duas obras cinematográficas nacionais recentes: Aquarius, do pernambucano Kleber Mendonça Filho, e Marighella, dirigido pelo ator Wagner Moura. Ambos ganharam projeções em festivais internacionais, enfrentam/enfrentaram dificuldades na distribuição comercial e, tendo forte politização, promoveram debates acalorados, demonstrando de forma icônica o potencial reflexivo do cinema. Marighella, por exemplo, sequer estreou e provocou a mudança de procedimento em plataformas internacionais de avaliação de filmes, como IMDb e Rotten
Tomatoes. Conclusões: de fato, o cinema carrega enorme potencial de promoção dos Direitos Humanos, seja tratando de temas específicos, explicitamente, seja através da promoção de mudança de pensamento, provocando e questionando valores estabelecidos. O cinema nacional tem apresentado essa característica, com forte engajamento social e político em suas produções, e por isso mesmo enfrenta diversos obstáculos, tanto comerciais como governamentais. A questão é se haverá fôlego para essas produções sobreviverem, principalmente no contexto político nacional,hostil à produção cultural, e considerando a pouca atratividade de mercado.

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