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A MULHER QUILOMBOLA E O DUPLO SILENCIAMENTO DA RAÇA E DO GÊNERO
Última alteração: 2019-07-09
Resumo
O presente trabalho busca analisar como as estratégias e ideias coloniais incidiram sobre a subalternização da mulher quilombola. Para tanto, será utilizado o método de análise qualitativo, bem como o método histórico-bibliográfico. O estudo fundamenta-se a partir dos aportes fornecidos por Maria Lugones (2014), Rita Laura Segato (2012) e Carla Akotirene (2018). O processo de colonização pautou-se na classificação dos povos a partir da diferença racial, ou racialização, assim, pessoas negras foram, de tal maneira, marcadas e postas em posição de inferioridade. Além disso, a colonização também foi responsável pela instalação e consolidação de um modelo de sociedade patriarcalista, reservando diferentes funções e valores a homens e mulheres. Nesse contexto, tais imposições coloniais colocam a mulher negra em uma posição de opressão intercruzada quando essa por ser mulher, vale menos que qualquer homem, e que por ser preta, vale menos que qualquer branca. Em 1851, na Convenção dos Direitos das Mulheres em Ohio, Sojourner Truth proferiu o emblemático discurso “Não sou eu uma mulher?” que evidencia o silenciamento da mulher negra a qual é negada a sua própria identidade, devendo lutar não apenas contra o patriarcalismo, mas para provar-se e ser reconhecida como mulher. Questiona-se nesta pesquisa, portanto, como se articulam, na história e no arcabouço bibliográfico sobre o tema, os processos que impuseram à mulher quilombola uma existência duplamente silenciada. Dessa forma, a pesquisa tem como objetivo geral investigar quais as intersecções existentes entre a ideia de dominação imposta pelo processo colonial e a invisibilidade que recaiu sobre as mulheres quilombolas. Especificamente, propõe-se a analisar a construção do feminino, a partir dos estudos sobre as interseccionalidades entre raça, gênero e poder (colonialidade), bem como identificar quais são as suas implicações para as mulheres quilombolas como sujeitos sociais. Conclui-se que a mulher negra, marcada por seu gênero e sua raça, encontra-se no ponto de cruzamento entre o racismo e o machismo, sendo suas opressões ainda intensificadas pelo fator da classe. Ressalta-se, que o reconhecimento da mulher quilombola em sua alteridade, é imprescindível para a articulação de estratégias de descolonização do feminismo, a partir da reivindicação das subalternidades.
Palavras-chave
mulheres quilombolas; raça; gênero; colonialidade; feminismo