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A mulher periférica como um não ser - uma visão decolonial da Baixada Fluminense
Última alteração: 2019-07-10
Resumo
A colonização trouxe a ideia de humano e não humano. O homem e a mulher colonizados são macho e fêmea. Sendo assim, não existe mulher colonizada enquanto ser. A mulher vive a colonialidade de gênero que é uma interação complexa de opressões (LUGONES, 2014). Levando em consideração que o modelo colonial desdobra-se no modelo capitalista atual, a sociedade vive uma hierarquia que é baseada - dentro de um conceito eurocêntrico - em raça, gênero e classe ( QUIJANO, 1991). Existe uma lógica de opressão estrutural que determina, por exemplo, qual território recebe política públicas ou não. Uma relação que pode ser observada na Baixada Fluminense - Rio de Janeiro. Trata-se de um território periférico formado por 13 municípios, majoritariamente negro, deflagrado pelo poder público e com altos índices de violência, sobretudo, violência contra a mulher. Sabendo que tal situação se dá através de uma interação de sistemas racializantes, econômicos e engendrados (LUGONES,2014), o sujeito colonizado se ao auto-reconhece como não ser dentro da estrutura social. Essa constatação leva a uma oposição crítica a condição de oprimido. Por isso, dentro do território da Baixada Fluminense existem grupos de mulheres - faço parte de um deles - atuando como um ativo de resistência a esse modelo colonial que lhes é imposto e que pensam e fazem política em busca de direitos. As mulheres não são pensadas como seres políticos. Ao falarmos dessas mulheres periféricas, os não seres, como sujeitos políticos na esfera pública, estamos falando de descolonização de gênero. Trata-se de uma pesquisa empírica com caráter exploratório qualitativo que também leva em consideração a minha posição como sujeito político que resiste a esse sistema de forças. O objetivo de pesquisar essas ações é entender a dinâmica do movimento de mulheres da Baixada Fluminense através da análise do impacto desses grupos de resistência dentro desse território. Para tal, é preciso levantar o histórico desse movimento de mulheres e, também, identificar as mobilizações feitas pelas mesmas que resultaram em mudanças nas políticas públicas locais em oposição a condição de opressão e de afastamento da esfera pública que lhes é imposta. Ou seja, o não ser não necessariamente se mantém na posição de oprimido e pode se colocar como resistente. No entanto, não se resiste sozinha a colonialidade de gênero e por isso é preciso estruturar as relações em grupos e aprender sobre as outras que resistem a diferença colonial. Espaço ocupado por aquelas que desconstroem seu encantamento como mulher universal e transcende a subalternidade em um lócus fraturado onde a relação entre oprimido e opressor é repensada.
Palavras-chave
Gênero. Feminismo. Mulheres. Decolonialidade. Políticas públicas