Portal de Conferências da Unicap, IV Seminário Internacional Pós-Colonialismo, Pensamento Descolonial e Direitos Humanos na América Latina

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Descolonizando narrativas: a experiência de alunos da Baixada Fluminense frente aos discursos presentes em museus cariocas
Gabriela Sousa Ribeiro, Barbara Boaventura Frianca

Última alteração: 2019-08-07

Resumo


Baseadas em García Canclini (2013), discutimos que quanto mais desce o nível de escolaridade menos as pessoas se apropriam dos espaços e bens culturais considerados patrimônio cultural. Esse fenômeno se dá, principalmente, pela falta de identificação sociocultural que as pessoas têm com tais bens. Se considerarmos que, geralmente, a institucionalização desse patrimônio é dada de cima para baixo e as pessoas não se sentem convidadas ou não têm acesso a vivenciar esses espaços, a falta de identificação é algo quase natural. Ponderando esses apontamentos, desenvolvemos cursos de extensão no IFRJ objetivando possibilitar a vivência de forma crítica de alunos/as da Baixada Fluminense a quatro museus da cidade do Rio de Janeiro. O objetivo deste trabalho é analisar, a partir de observações participantes, pertinência dos cursos e suas reverberações nos/as alunos/as. Os cursos aconteceram nos anos de 2016, 2017 e 1018, em média, com 10 alunos, todos moradores da Baixada Fluminense. Os cursos iniciaram com uma aula expositiva, em que eram discutidos aspectos para subsidiar uma visão crítica aos/às estudantes sobre os espaços e seus acervos ao longo da visita. Muito mais do que identificar técnicas, épocas e origem das peças expostas nos museus, sabendo que, conforme Ramos (2004), não há museu inocente, todos expõem uma intencionalidade, incentivávamos questionamentos acerca do motivo de tais objetos estarem ali e não outros; de quem era a voz que contava a história; com base em que ótica, de dentro ou de fora, do colonizado ou do colonizador? As visitas-aulas se deram em quatro museus distintos em objetivos: Museu Histórico Nacional (MHN), Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), Museu do Folclore e Museu de Arte do Rio (MAR). O MHN contava a história do Brasil, desde seus “primórdios”. Foi o que se mostrou, em alguns aspectos, mais colonizador: iniciava a apresentação do território brasileiro com a fala dos europeus descobrindo o Brasil, apresentava objetos de povos indígenas como um povo único; colocava o caráter exótico dos nativos como narrativa. No MNBA, os alunos se mostraram encantados com a majestosa sala de esculturas em mármores, influenciados pelo entendimento que ali estavam obras clássicas, visto que a cultura institucionalizada afirma constantemente que as esculturas grego-romanas são a cultura clássica, ainda que aquelas fossem moldes que que serviram aos primeiros estudantes da Escola de Belas Artes. No Museu do Folclore, há muitas obras do interior de Minas Gerais, do Norte e Nordeste do país. Há ainda, ligada ao museu, a Sala do Artista Popular e a lojinha de artesanato, que, em comparação com a área expográfica do museu, são maiores, demonstrando a valorização que se dá ao aspecto comercial relacionado ao artesanato. No MAR, destaca-se a discussão em torno da gentrificação a partir da cultura, no que tange ao Porto Maravilha, sendo o próprio museu objeto dessa discussão. O curso se mostrou importante ferramenta para moradores da Baixada Fluminense entenderem que não devem apenas aceitar passivamente o que lhes é imposto. Os estudantes relataram que puderam ampliar sua percepção acerca das disputas em torno do direito à cultura. Referências: GARCÍA CANCLINI, Néstor. Culturas Híbridas: Estratégias para Entrar e Sair da Modernidade. Tradução: Heloísa Pezza Cintrão, Ana Regina Lessa; tradução da introdução: Gênese Andrade. 4. ed. 7. reimp. São Paulo: Editora da USP, 2015. RAMOS, Francisco Régis Lopes. A danação do objeto: o museu no ensino da história. Chapecó: Argos, 2004.