Última alteração: 2019-07-23
Resumo
O ataque à Iaiá e Ioiô – a nova Guerra Santa em Terra Brasilis. Em agosto de 2017, é lançado um censo religioso entre os servidores da Guarda Municipal do Rio de Janeiro. No mesmo ano, a típica festa cultural carioca denominada “Barco de Iemanjá” perde o patrocínio do Ente Municipal, após 13 anos custeando este evento cultural- religioso. Há menos de um mês, o Comando do PCC “ordena” fechar todos os terreiros da baixada fluminense.
É perene a noção de que a religião está para o indivíduo como forma de identificação, haja vista que a conexão com o divino recai em uma atuação peculiar ao ser humano. A história comprova isto. Mas de lá até cá, pode-se falar que o Brasil é efetivamente um Estado Laico? Ou pode-se dizer que há em nosso cotidiano uma Guerra Santa? E, principalmente, qual a mola-mestra teórica que justifica a repulsa às religiões de matriz africana?
O presente estudo será realizado mediante um corte epistemológico na análise da discriminação das religiões afro como consequência do avanço da influência da Igreja neopentecostal sob a ótica sob da teoria da colonialidade. Ao situar o Brasil no sul global, percebe-se que há uma visível submissão aos países centrais onde discursos inflamados de invasão à vida particular do indivíduo em seu modus vivendi, bem como estereótipos e perseguições religiosas, denotam a real influência da teoria da colonialidade como alicerce de justificação para o quadro atual. A ideia de propagação do homem branco, heterossexual e cristão como símbolo a ser seguido unilateralmente reforça o ataque às religiões de matriz africana.
Passaram-se mais de 500 anos em que o país passou pela colonização formal. O processo de dominação do colonizador pouco a pouco foi modificando sua abordagem e suas premissas. Em verdade, a saga colonial não se encerrou no: “Liberdade ou Morte!”. Sobre uma base ideológica homogeneizada e universalista que prega a vinda do movimento civilizatório aos novos Estados-nações, serviu o iluminismo para fundar a ideia do homem racional e livre da modernidade. Gradativamente houve a construção dos arquétipos formados pelos direitos humanos, onde estes serviram de base para lançar e firmar o epicentro europeu para o mundo. A religião parte deste pressuposto ideológico. O padrão civilizatório é definido então. O discurso dos direitos humanos é o projeto moral da modernidade ocidental. A colonialidade escancara a perpetuação da submissão de Estados soberanos nos processos de dominação. E essa dominação se estabelece sob vários vetores, entre eles a colonialidade do ser, eis que o paradigma eurocêntrico não admite outra conexão com a divindade que não seja aquela imposta outrora – o cristianismo.
Partindo dessa premissa, muito da carga discriminatória difundida contra as religiões afro entre as igrejas neopentecostais se justifica na teoria da colonialidade do ser, onde a religião é fator condicionador de condutas e também elemento de perpetuação do poder sobre o indivíduo. Daí exsurge o (re)conhecimento de sua história
e de sua realidade sócio-cultural valorizada, uma identidade religiosa única, rechaçando o padrão eurocêntrico, geridas no âmbito da descolonialidade.