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A MULHER QUILOMBOLA E O RECONHECIMENTO DO DIREITO À TERRITORIALIDADE: uma análise a partir da perspectiva da teoria decolonial e interseccional feminista
Giovana Nobre Carvalho

Última alteração: 2019-07-17

Resumo


Podemos dizer que, uma das maiores batalhas que as comunidades tradicionais enfrentam, atualmente, é a violação ao seu direito ao território. Tal violação acarreta os chamados conflitos socioambientais, cada vez mais frequentes nas regiões rurais de nosso país, por sua vez os conflitos socioambientais geram a chamada injustiça socioambiental. Nos últimos anos, as mulheres quilombolas vêm assumindo um protagonismo na organização da luta em defesa do território.

Segundo o relatório “Racismo e violência nos quilombos do Brasil” produzidopela Terra de Direitos e pela CONAQ, registrou-se que a exposição de mulheres quilombolas a um maior risco está associado ao período em que estas começaram a assumir papeis de liderança pública. Ressaltam que, todas mulheres quilombolas que foram assassinadas no período de 2007 a 2018 desempenhavam um papel de liderança dentro de suas comunidades.

Desse modo, entendendo que o grupo mais invisibilizado neste cenário de luta são as mulheres quilombolas, a relevância desta pesquisa se justifica justamente na importância de analisar, a partir da teoria decolonial e interseccional feminista, o contexto de opressão em que estas mulheres estão inseridas.

Historicamente, podemos inferir que o modelo tido como padrão e valorizado na sociedade é o branco – o que era muito bem defendido por Lélia Gonzáles – conseguimos entender que o racismo foi constituído pela superioridade de um padrão branco e patriarcal, o qual a teoria feminista acabou incorporando em suas pautas, reinvindicações e discursos, o que resultou no fato da mulher branca como centro do movimento feminista durante muito tempo.

Logo, se a mulher branca era o centro do movimento, e considerando que, as reivindicações das mulheres brancas claramente não eram as mesmas reivindicações das mulheres negras – já que, por exemplo, enquanto a primeira categoria lutava pelo direito ao sufrágio, a segunda categoria lutava para ser considerava um indivíduo – o que se teve foi uma invisibilidade das mulheres negras dentro do movimento. Tal questão fez com que suas pautas não fossem colocadas como centro de debate ou não tivessem o mesmo destaque e relevância das pautas defendidas pelas mulheres brancas.

Deste modo, a metodologia de análise utilizada será pensar a problemática em questão a partir da teoria interseccional feminista, cunhada incialmente por Kimberlé Crenshaw. A autora usa uma metáfora, onde compara os eixos de poder – raça, classe, gênero, etnia – com avenidas que estruturam terrenos sociais, políticos e econômicos, refletindo que por determinadas vezes, esses eixos se cruzam, formando então intersecções complexas nas quais dois ou mais eixos se entrecruzam. Esta defende as opressões não são sentidas da mesma forma por grupos distintos, exemplificando que as mulheres não sentem o sexismo da mesma forma e que o racismo não é vivenciado da mesma maneira por homens e mulheres. Afirma, também que, um dos mais conhecidos exemplos de opressão interseccional e mais trágico é o da violência contra as mulheres baseado em etnia e raça.