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A EDUCAÇÃO NO CAMPO COMO PRÁTICA DE(S)COLONIAL
Última alteração: 2019-07-10
Resumo
Os movimentos sociais ligados à luta pela reforma agrária no Brasil, pauta que diz respeito à estrutura formativa do país, esbarra, como há muito é sabido, com a resistência das elites agrárias e dos valores colonialistas vigentes. Assim, a ineficácia da previsão legal da Reforma Agrária, como uma competência da União, é contraposta pela luta dos trabalhadores e trabalhadoras sem-terra, fortemente marcada pelas suas táticas de ocupação de terras e de reivindicações em torno da Reforma Agrária, demonstrando-se como um afronte ao contínuo exercício da colonialidade no Brasil.No entanto, a luta pela reforma agrária vai muito além do que a ocupação de terras e da conquista de sua posse. É necessário que haja um aparato de serviços que permitam a permanência desses trabalhadores no campo brasileiro. Nesse sentido, insere-se a problemática discutida no presente trabalho: a da necessidade de uma educação voltada para a realidade transgressora desses grupos. Desse modo, busca-se retomar por meio de pesquisadores brasileiros e latino-americanos, como Darcy Ribeiro, Florestan Fernandes, João Pedro Stédile, Nelson Maldonado-Torres e, centralmente, a partir da discussão das pedagogias de Paulo Freire, reflexões que nos permitam apontar dentro no nosso processo de formação de povo brasileiro o papel revolucionário da luta pela terra e de sua órbita de reivindicações, enfatizando a construção de experiências educativas que reflitam a realidade e contradições dos movimentos ligados à luta pela reforma agrária, em específico no tocante à construção da educação popular em suas terras ocupadas ou já conquistadas.Para tanto, tomou-se como base a observação e participação em algumas práticas educacionais desenvolvidas por movimentos ligados à luta pela reforma agrária, sobretudo, do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra no estado de Alagoas, bem como do levantamento bibliográfico de autores já supracitados. Além disso, o presente trabalho se debruça na reflexão de algumas bandeiras de lutas destes movimentos e da sistematização documental destes, a partir de dossiês, relatórios e Boletins da Educação, disponibilizados pelo MST, que demonstram o desejo por uma escola que trate de questões do cotidiano, retomando a ideia da Pedagogia da Cooperação que pretende romper com “práticas pedagógicas opressivas”.Contudo, percebeu-se até aqui uma contradição no que tange à formatação dos espaços educacionais institucionais ainda quando interiorizados, devido à sua configuração bancária e em prol da manutenção da ordem. Ao mesmo tempo, percebeu-se que a prática da educação popular está impregnada no cotidiano destes movimentos, desde as cirandas, espaços de formação política e processos táticos de alfabetização de adultos, como é o caso do projeto desenvolvido pelo MST, designado “Sim, eu posso”.Portanto, vê-se nestes movimentos a busca por uma educação popular, enquanto uma prática cotidiana e em construção, pautada na emancipação de seus sujeitos e no rompimento dos valores vigentes na sociedade brasileira, essencialmente agrária e contrária aos valores que sustentam a luta pela terra.