Portal de Conferências da Unicap, IV Seminário Internacional Pós-Colonialismo, Pensamento Descolonial e Direitos Humanos na América Latina

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POR UMA FILOSOFIA DECOLONIAL: EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO DOCENTE
Bruno Bahia

Última alteração: 2019-07-10

Resumo


Refletir sobre filosofia e educação no presente cenário nacional nos permite observar e questionar diversos problemas presentes na escola e na formação docente que nossa tradição acadêmica – linhas de pesquisa, apropriação de teorias e metodologias aplicadas, postura educativa, etc – muitas vezes não nos permite desenvolver. A filosofia ocidental, gestada sob a égide da paideia grega, não nos abriu espaço para problematizarmos a realidade iluminados pela contribuição racional de diversos „outros‟ povos para a formação humana (Jeager, 1994). O processo invaso-colonizador português, embasado pela Ratio jesuítica, focou seus esforços em manter a filosofia e a educação ligadas a uma visão cristã-eurocêntrica de mundo. Embora pareça, essa concepção não está encerrada nela mesma e, por isso, propomos outras perspectivas. Defendemos que a partir de um pensamento „pluriversal‟, ou seja, no qual os saberes e a forma de lidar com eles são produtos da inteligência humana desenvolvidos em contextos culturais específicos, podem ser validados, agregados e ressignificados em outros contextos culturais. De acordo com uma perspectiva intercultural crítica, de base decolonial, é importante dizer que há saberes que, devido a padrões de poder pautados na racialização, não são relevantes para a sustentação de dinâmicas econômicas, mantenedoras da cultura dominante e do status quo (Walsh, 2012). Para Mignolo (2007), trata-se de um projeto de regras eurocentradas dos países imperiais da Europa Ocidental e dos Estados Unidos, um movimento que contrapõe, de um lado, uma condição colonial ainda existente - mesmo depois da “independência” de países americanos e africanos - e, de outro, a invisibilização da diversidade sociocultural dos referidos países. Espaços sociais de exploração, dominação, conflitos articulados precisam ser destituídos para que nossa história e saberes originários não sejam relegados ao esquecimento como massa de manobra. Questionando a ideia do „milagre grego‟ (Mondolfo, 1964), apresentaremos indícios de uma racionalidade consciente – filosofia e educação – presente em povos africanos, por exemplo, que antecedem à época áurea ocidental, como é o caso dos egípcios (Asante, 2000; Diop, 1977; Nogueira, 2011). São diversos os problemas filosóficos causados por uma forma de pensamento „unilateral‟ sobre a filosofia e a educação, conduzindo a um terreno fértil para o desenvolvimento dos fenômenos da ideologia, do dogmatismo, do preconceito e da discriminação. Partiremos do pensamento egípcio antigo (Asante, 2009) em comparação com a paideia grega (Jaeger, 2013) para apresentarmos o problema de se reconhecer um modelo cultural „superior‟ subsidiando formas equivocadas de lidar com o Outro. O preconceito (Bobbio, 2002) e a discriminação racial revelam o quanto o processo da racionalidade nos conduz, muitas vezes, à irracionalidade e a posicionamentos acríticos e equivocados. A partir dessas reflexões, apresentaremos como uma filosofia decolonial pode proporcionar o surgimento (e valorização!) de diversas visões de mundo até então desprezadas frente a um modelo canônico já estabelecido por relações políticas de poder.