Última alteração: 2019-07-10
Resumo
Este estudo busca refletir acerca do processo educativo vivenciado pelos acadêmicos indígenas no curso Interdisciplinar em Educação do Campo: Ciências da Natureza, a partir da estrutura científica, que lhe dá base. O olhar se volta mais especificamente à relação que se estabelece entre sua cultura originária e a ciência ocidental, que pauta e orienta a formação universitária, considerando que este modelo científico que hora se apresenta tem se estruturado em desacordo ao processo histórico-cultural desses povos, determinando prejuízos à vida, às formas de organização, de alimentação, religiosas a que estiveram submetidos, a partir da invasão colonial. A partir da revisão teórica, busca-se localizar como a constituição da ciência ocidental, desde seus primórdios, tem sido marcada pela lógica da superioridade, tendo a estrutura hierárquica provido distinção entre raças, negação de mitos originários e subalternização e/ou invisibilização dos conhecimentos tradicionais, resultando em epistemicídios. Pelo viés da decolonialidade, busca-se resgatar, mapear, delimitar e registrar a produção do conhecimento indígena que aponte para rupturas com a lógica eurocêntrica da ciência e de suas metodologias, visando a promoção de interepistemologias. Trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativo, sendo que para a coleta de dados empíricos optou-se pela realização de entrevista semiestruturada, observação participante, grupo focal e pesquisa documental. As entrevistas com os acadêmicos indígenas serão realizadas ao longo do segundo semestre do ano de 2019, buscando acompanhar o desenvolvimento do Trabalho de Conclusão de Curso, observando dificuldades, limitações, dúvidas e superações. Também serão realizadas entrevistas com os docentes do curso, de forma a identificar se e como percebem possibilidades de alterações no modelo ou método utilizado para o desenvolvimento do conhecimento científico, no caso, o Trabalho de Conclusão de Curso, referenciados no contexto cosmológico indígena. Objetiva-se, desta forma, permitir que os sujeitos indígenas busquem localizar as limitações que a ciência ocidental promove em seu processo formativo e na produção de conhecimento. Pretende-se apontar outros modos e formas de reconhecimento do conhecimento indígena e de sua produção, bem como as contradições do processo formativo vivenciado por estes sujeitos, no sentido de superação do epistemicídio e da promoção de interepistemologias.