Tamanho da fonte:
A escuta psicológica no enfrentamento a violência sexual de adolescentes e mulheres
Última alteração: 2019-07-09
Resumo
A escuta psicológica é aqui definida como uma ação sensório-política, que se desenrola em determinados contextos institucionais, nos quais integra disciplinas, formas de governos e resistências, a partir de relações de raça, gênero, classe, sexualidade. A partir dessa definição, foi realizado uma revisão da literatura científica brasileira sobre escuta psicológica a adolescentes e mulheres em situação de violência sexual. O levantamento bibliográfico foi feito em três bibliotecas virtuais: 1) SciELO Brasil; 2) a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações; e 3) a Biblioteca Virtual de Saúde Psicologia Brasil (BVS-Psi). Foram excluídas as produções referentes apenas a crianças em situação de abuso sexual, porém, quando retratadas juntamente com adolescentes, também foram incluídas. Foram excluídas, ainda, aquelas que, embora discorressem sobre violência sexual, não retratassem propriamente sua escuta psicológica, isto é, envolvessem seja aspectos quantitativos, como epidemiologia, sintomatologia, perfil das vítimas, dos agressores ou da agressão, seja aspectos qualitativos, como significados sobre a violência sexual ou sobre família para pessoas em situação de violência sexual, etc. Embora se compreenda que pesquisas qualitativas em psicologia com estas pessoas, familiares e/ou demais envolvidos necessariamente configuram um processo de escuta psicológica, em sentido amplo, buscou-se abordar apenas aquelas produções que tinham a última como objeto, não as pessoas propriamente ditas. Apesar disso, quando assumida enquanto pesquisa-ação, ou em seu caráter interventivo, foi também considerada. Após seleção das produções que satisfizeram os critérios para inclusão no levantamento e eliminação das repetições de um mesmo texto encontrado em mais de uma das bibliotecas, obteve-se o quantitativo final de 17 artigos, 04 dissertações e 03 teses. De modo geral, nas produções bibliográficas analisadas, se aponta para uma forte ênfase na escuta de crianças e adolescentes em situação de abuso sexual, pouca abordagem a mulheres adultas em situação de violência sexual. Além disso, se referem a uma diversidade de espaços de atuação profissional, com predominância da clínica e do hospital, adotando referenciais técnicos variados, sobretudo a psicanálise e a terapia cognitivo-comportamental. Há, ainda, no que diz respeito as estratégias de escuta adotadas e os estudos de caso descritos, pouca atenção ao contexto institucional e as relações de poder envolvidas. apontadas apostam, como parece óbvio, na escuta e no uso de recursos psicológicos como estratégias para identificar e tratar o sofrimento psíquico advindo da violência sexual. A noção de vítima, de sofrimento e a própria prática psicológica são tomadas como naturais, não como construções históricas, no conjunto das publicações. Nesse sentido, parece ser útil oferecer um pensamento crítico capaz de questionar não tanto a eficácia ou resolutividade que boa parte dos textos apregoam, mas suas condições de possibilidade.