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PERFORMATIVIDADE DE TRABALHADORAS LÉSBICAS E TRABALHADORES GAYS DO EIXO SUL: CAPITAL E HOMOLESBOFOBIA COMO MULTIPLICIDADE DE OPRESSÕES
Última alteração: 2019-07-09
Resumo
As transformações pelas quais passou o mundo do trabalho, mudaram os modos “de viver,de pensar e de sentir a vida” (GRAMSCI, 2008), repercutindo necessariamente e são, ao revés,alimentadas, por novas formas de organização do Estado, das instituições públicas, do Direito e daprópria sociedade. Tais mudanças propiciaram a consolidação do capitalismo como sistemaeconômico, social e cultural hegemônico nos países do Ocidente, tendo como um de seus elementosa relevância do ambiente laboral na vida dos cidadãos e cidadãs. É bem verdade que variada gamade produções acadêmicas se dedicarão ao estudo da centralidade do trabalho como elementofundamental da constituição dos sujeitos. Contudo, não se pode esquecer que aliado ao mundolaboral permeiam outros marcadores sociais, como a sexualidade, a etnia e até mesmo o local e aorigem do trabalho desempenhado que influenciarão nas experiências, relações e vivências dastrabalhadoras e trabalhadores. Nesse sentido, ressaltamos a obra de Henrique Nardi (2007) queafirmará que a partir da modernidade, a sexualidade e o trabalho têm-se consolidado como dois dosprincipais pilares de formação da subjetividade dos indivíduos, influenciando seu tornar-se humanona sociedade capitalista atual. Nessa toada, é que a imposição da heteronormatividade, oriunda damatriz colonial, promove o chamado “binarismo restritivo” (PELÚCIO, 2012, p. 410), caracterizadopelo falocentrismo, que incentiva a chamada heterossexualidade compulsória e ao mesmo tempo,uma pretensa heterogeneidade da força de trabalho. Assim, é que a colonialidade, este elementoconstitutivo do padrão mundial de poder capitalista, tem se mostrado mais persistente que o própriocolonialismo, pois é nela que se encontra a dimensão simbólica desse processo de imposiçãosubjetiva, material e cultural. Especificamente ao analisar a economia de mercado, a lógica dareprodução do capital e da acumulação de riquezas se dá mediante fundamentos econômicos quetendem a colonizar a vida social de modo danoso e subalternizar os corpos dissidentes. Por oportuno, em um diálogo com as teorias Queer Of Colour, que se diferenciam daquelas que, poroposição teórica, chamamos de “teorias queer brancas”, que dedicam-se em primeiro lugar a figurae as reivindicações de um “sujeito dominante do ponto de vista da raça, da colonialidade e daclasse, ou seja, um sujeito branco de classe média” (BACCHETTA; FALQUET; ALARCÓN, 2011),busca-se (re)pensar o enfrentamento às normas sexuais, às sociais e às corporais, pressupondosempre uma leitura interseccional da dominação (BOURCIER, 2002). Por fim, apesar de existiremcríticas entre o uso da teoria Queer e a decolonialidade, busca-se utilizar a perspectiva da teoriaQueer of Colour para identificar de que maneira as performatividades desviantes da hetenorma, porparte de gays e lésbicas do sul, são tratadas de maneira mais precária pela sociedade. Busca-se,assim, demonstrar a subalternidade dessas performances diante do considerado normal, aceitável.Dessa forma, o objetivo da presente pesquisa é propor um olhar sobre a sexualidade dostrabalhadores do eixo sul e a multiplicidade de opressões oriundas do capital, manifestadas noscontextos de trabalho, através de uma perspectiva decolonial, e compreender como a colonialidadedo poder interfere nas estruturas de controle do trabalho e por consequência nos arranjos deexploração e dominação social.