Portal de Conferências da Unicap, IV Seminário Internacional Pós-Colonialismo, Pensamento Descolonial e Direitos Humanos na América Latina

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DO LUTA À LUTA Trajetória das mães na (re)construção da memória de seus filhos, vítimas do Estado, e na (re)significação de suas vidas a partir de uma perspectiva decolonial e interseccional
Julia Santa Cruz Gutman

Última alteração: 2019-07-10

Resumo



A presente pesquisa possui como propósito a busca de uma reflexão acerca do processo vivenciado por muitas mulheres no Brasil-mães que perderam seus filhos em função de violências praticadas por agentes do Estado. Como elas encontram forças para seguir em frente? Como reconstruir e ressignificar toda essa memória traumática quando não há responsabilização, verdade nem justiça? Como essas mães, mesmo vivenciando o luto, conseguem reunir condições de lutar pela memória de seus filhos?Este estudo se baseia na perspectiva decolonial,que não significa repelir os saberes europeus, master como ponto de partida a problematização da realidade opressora que historicamente vem se consolidando em paradigmas a serem seguidos.Assim, não é se desconectar dos saberes sistematizados, mas ampliar estes conhecimentos na perspectiva também da problematização da realidade.Ademais, aposta-sena interseccionalidade,com ênfase no feminismo negro, a partir de autoras como Sueli Carneiro, Kimberlé Crenshaw, Audre Lorde, Márcia Tiburi, Patricia Hill Collins e Djamila Ribeiro.A Perspectiva interseccional seria a compreensão de que as opressões estruturais não devem ser compreendidas de modo isolado, mas sim que estas marcações estão intimamente interligadas e podem,inclusive, ser sobrepostas.A presente pesquisa será desenvolvida sob o enfoque crítico-dialético, ou seja,por meio de um método de diálogo, de contraposição de ideias que levam a outras,sempre através de uma perspectiva crítica da realidade e do próprio Direito.Importante ser colocado que,para que sejam atingidos os objetivos supracitados neste projeto, será necessário valer-se de um conjunto de instrumentos metodológicos,assim como o emprego de diversas fontes de pesquisa.Inicialmente, será realizada uma revisão bibliográfica, doutrinária, isto é, um levantamento teórico a fim de mapear o que há de material (artigos, dissertações de mestrado, teses de doutorado, relatórios, livros, matérias jornalísticas, dentre outros)sobre o tema.Por conseguinte, será feita uma sistematização e análise de dados e informações,constante em pesquisas e levantamentos já realizados, no que se refere, por exemplo, ao número de jovens mortos por agentes do Estado na cidade do Rio de Janeiro e de quais são as associações e redes de mães de vítimas de violações de direitos humanos praticadas pelo Estado. Assim sendo, serão identificados os movimentos sociais, ONGs,instituições, associações, redes e grupos de mães comprometidas com a causa, com a luta por verdade, justiça e pela memória de seus filhos.No quetange às fontes orais, mostra-se essencial um levantamento dos relatos de vida destas mulheres. É através do testemunho destas mães, de suas histórias e vivências, que tiveram seus direitos violados e que perderam seu maior bem, que será possível, quem sabe, contribuir para um maior conhecimento e elucidação dos casos.Neste sentido ressalta-se ser essencial um retorno da pesquisa à sociedade, em especial a estas mães.Os mortos têm voz e parte-se do pressuposto de que se deve adotar uma compreensão de mundo que leve em consideração e, inclusive, privilegie a versão e a história contada pela vítima, pelos marginalizados, oprimidos e vencidos.