Portal de Conferências da Unicap, IV Seminário Internacional Pós-Colonialismo, Pensamento Descolonial e Direitos Humanos na América Latina

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O INTERNACIONALISMO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS E INDÍGENAS DA AMAZÔNIA: o exercício da diplomacia dos povos no Fórum Social Pan-Amazônico e a globalização contra-hegemôni
Mateus Ferreira Carvalho

Última alteração: 2019-07-15

Resumo


O trabalho tem como objeto de análise o internacionalismo dos movimentos sociais eindígenas da Amazônia, partindo da questão: como e por que esses movimentos, nascidos nobojo das tensões sociais da região, articulam-se para além de suas fronteiras nacionais? Ahipótese levantada é a de que os movimentos sociais e indígenas da Amazônia buscam,através da diplomacia dos povos, ecoar suas demandas nas diversas escalas da vida social epolítica, constituindo-se enquanto resistência ao modelo hegemônico de globalização, umavez que esses sujeitos sociais se fundamentam em outro tipo de relação homem-natureza,sistematizada na filosofia do Bem Viver. Desse modo, em um primeiro momento, exploramosos elementos envolvidos na hipótese: a diplomacia dos povos e a filosofia do Bem Viver,instrumentos essencialmente decoloniais (MARTÍNEZ, 2011, p. 130), pois recuperam o saberancestral dos povos originários, historicamente reprimido pela configuração cultural impostapela Europa a partir do advento da colonização (QUIJANO, 2005, p. 110); os precedenteshistóricos dos movimentos de resistência da Amazônia, entendidos enquanto sujeitos sociaishistoricamente esquecidos ou ignorados (GONÇALVES, 2012, p. 128) diante do caráter defronteira de expansão da região amazônica. Para este intento, realizamos um extensolevantamento bibliográfico. Na segunda parte, analisamos o Fórum Social Pan-Amazônico(FOSPA), uma experiência concreta de exercício da diplomacia dos povos, apontando suaformação, suas pautas e seus sujeitos ali presentes, bem como balanceando seus possíveisganhos e entraves. Nesta parte, a metodologia aplicada foi a análise de documentos do Fórume a realização de entrevistas com indivíduos e entidades que estiveram diretamente envolvidosnos espaços do FOSPA. Constatou-se que o FOSPA se opõe fortemente à Iniciativa paraIntegração da Infraestrutura Regional Sul-Americana – IIRSA, pois a implantação dosmegaprojetos de infraestrutura não respeita o consentimento livre, prévio e informado dospovos indígenas e das comunidades tradicionais da Amazônia (expresso na Carta dePrincípios do Fórum2). Sustenta-se que a IIRSA é expressão, na América do Sul, do processoda globalização hegemônica, que tem como pretensão a expansão de mercados, superando fronteiras históricas, como é o caso da Amazônia, tida, até hoje, como um espaço onde ocapital não se instalou efetivamente (PRADO FILHO, 2017, p. 53). Conclui-se que ainternacionalização dos movimentos sociais e indígenas é parte do processo de globalizaçãocontra-hegemônica e que espaços como o FOSPA – enquanto experiência concreta deexercício da diplomacia dos povos e da defesa contundente de um novo paradigmacivilizatório – são mecanismos para a conformação de um modelo alternativo de integraçãoregiondos povos; Bem Viver.

Palavras-chave


Movimentos sociais e indígenas; Amazônia; Fórum Social Pan-Amazônico;Diplomacia